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Peter me disse que o homem desempenha muitos papéis, e nenhum deles é real. Cada papel é outra máscara, formada inconscientemente pelo ambiente e pela aptidão. O homem é como uma cebola. Quando ele mergulha em si mesmo, por meio da meditação e outros exercícios, pela disciplina, pela luta contra seu eu, as camadas da cebola caem, uma por uma, até que a última desapareça e nada reste. Não gostei da última parte dessa explicação: nada não é muito. Por que passar por todo esse esforço para se tornar nada, para se dissolver em um vazio? “Mas então”, eu disse, “não se está mais lá. E se não se está mais lá, não resta nada para desfrutar da grande percepção, da liberdade imensurável.”

“Olhe para o mestre”, Peter disse, “lá está ele. Vê?” O mestre, por acaso, estava passando e nós o observamos entrar pelo portão. Peter riu, não uma risada extasiada, ocultando segredos, mas uma risada alegre, um agradável e jovial “ha ha.”

“Sim”, eu disse. Mas não entendi. No entanto, entendi. Senti que ele estava certo. Sabia também que um dia saberia, saberia com clareza e sem qualquer dúvida, que ele havia pronunciado uma verdade tremenda. Que tudo precisava ser destruído, abandonado, todo orgulho, toda inveja, toda segurança, todo gancho ou projeção a que a personalidade pudesse se agarrar.

Uma senhora americana certa vez disse ao mestre que, no fundo de sua mente ou alma, possuía um núcleo sagrado no qual podia encontrar paz, e que esse núcleo estava sempre com ela, às vezes difícil de alcançar, mas, de qualquer forma, presente.

“Sim”, o mestre disse, “isso lhe causa muitos problemas, esse núcleo—ele está no seu caminho. Abra mão dele, qualquer ideia que tenha sobre ele. Livre-se disso!”

Acredito, pela maneira como ela reagiu, que sentiu muito bem o que ele quis dizer, mas sentir algo não é o mesmo que saber, que ser capaz de aplicar. Ela deixou o mosteiro completa com seu núcleo, assim como eu havia me apoiado no túmulo, completo com tristeza.