Sohravardi (CETC) – Vestir a túnica da Luz auroral
Hûrqalyâ: “Mundus imaginalis” ou o mundo das Formas imaginais e da percepção imaginativa. Livre des Entretiens, pp. 503-505, §§ 223-224.
«… Em suma, o teósofo que realmente possui a experiência mística é aquele para quem seu corpo material se torna como uma túnica que ora ele despe, ora ele veste. Nenhum homem pode ser contado entre os teósofos místicos, enquanto não tiver conhecimento do fermento sacrossanto da sabedoria mística, e enquanto não tiver experimentado esse despojamento e esse revestimento. A partir daí, se quiser, ascende à Luz, e, se lhe aprouver, pode manifestar-se sob qualquer forma que escolher. Quanto a essa potência, ela é produzida nele pela Luz auroral (nûr shâriq) que irradia sua pessoa. Não se vê que, tendo o fogo agido sobre o ferro em brasa, este tomou a semelhança do fogo, irradia e incendeia? Assim é a alma cuja substância é a do mundo espiritual. Quando ela sofreu a ação da luz e vestiu a túnica da Luz auroral, ela também é capaz de influir e agir; ela faz um sinal, e acontece conforme seu sinal; ela imagina, e acontece conforme sua imaginação. Os impostores seduzem com malabarismos, mas o iluminado, o perfeito, o amante da harmonia, imunizado contra o mal, esse age pela energia e pela assistência da Luz, porque ele mesmo é filho do mundo da Luz. Se o que predomina na substância essencial da alma é a res victorialis (al-amr al-qahrî), então a Luz auroral se eleva sobre ela de uma maneira que faz predominar nela a parte das realidades vitoriosas emanando das configurações siderais e dos Anjos dos quais estas últimas são as teurgias. É essa realidade suprassensível que os antigos Persas designavam como Xvarnah (“Luz-de-glória”, persa Khorreh). É algo que, tendo sua fonte nas incandescências astrais, tem como vestígio no mundo humano a força dominadora; aquele que é investido dela torna-se um herói, um vencedor, um triunfador. Se a Luz auroral que tem sua fonte nos astros espirituais, sendo estes as puras entidades espirituais de luz, corresponde à aptidão da alma por uma “dimensão” de desejo e de amor, então o vestígio do Xvarnah que a penetra se manifestará fazendo com que seu detentor encontre sua alegria nas coisas sutis e delicadas, despertando nas almas inclinação e amor em relação a ele, levando os homens a magnificar seu louvor, porque o esplendor que se comunica ao seu ser provém de Anjos com teurgias benéficas, dignos de magnificação e de amor. Enfim, se há equilíbrio, e que superabunda nele a parte das qualidades de luz recebidas pela mediação do príncipe celeste ao luminar sublime, então ele se torna um rei magnífico, cercado de respeito, favorecido de conhecimento, de perfeição e de prosperidade. E é isso apenas que é chamado o Xvarnah real (Kayân Khorreh). Em sua plenitude, trata-se da mais augusta das categorias, pois implica um perfeito equilíbrio de luz, além do fato de que o Luminar sublime seja o pórtico de todos os êxtases maiores. Quanto ao fato de caminhar sobre as águas, de planar nos ares, de alcançar o Céu, de ver a Terra se convolver como um tapete, são experiências que um certo número de místicos conhecem, contanto que a Luz que os atinge se produza pela coluna da aurora em cidades do Oriente intermediário. E tudo isso, certamente, pode ser encontrado no itinerário que os místicos seguem. Aqueles dentre eles que ainda estão apenas medianamente avançados param nisso, mas os perfeitos não dão importância a isso. De qualquer forma, na seita dos Peripatéticos não conhecemos ninguém que tenha tido o pé firme na sabedoria teosófica, quero dizer na ciência das puras Luzes. »
