Ibn Arabi (SP) – Da sabedoria da inspiração divina no verbo de Seth §8
Mas voltemos agora à distinção dos dons (divinos) em dons essenciais e em dons conformes aos Nomes. Para aquilo que é dos favores e dons essenciais, eles só são concedidos em virtude de uma revelação (ou irradiação: tajalli) divina; ou, a Essência só se revela sob a “forma” da predisposição do indivíduo que recebe esta revelação; e jamais se produz outra coisa. Portanto, o sujeito recebendo a revelação essencial verá apenas sua própria “forma” no espelho de Deus; ele não verá Deus — é impossível que ele O veja —, sabendo de certo que ele só vê sua “forma” em virtude deste espelho divino. Isto é totalmente análogo aquilo que tem lugar em um espelho corporal: aí contemplando formas, não vês o espelho, sabendo de certo que só vês estas formas — ou tua própria forma — em virtude do espelho 1). Este fenômeno, Deus o manifestou como símbolo particularmente apropriado a Sua revelação essencial, para que aquele a quem Ele Se revela saiba que ele não O vê; não existe símbolo mais direto e mais conforme à contemplação e à revelação da qual se trata. 2). Tente portanto tu mesmo ver o corpo do espelho ao mesmo tempo que olhas a forma que aí se reflete; não o verás jamais ao mesmo tempo. Isto é tão verdadeiro que alguns, observando esta lei das formas refletidas nos espelhos (corporais ou espirituais), pretenderam que a forma refletida se interpõe entre a vista do contemplante e o espelho mesmo; isto é o que alcançaram de mais alto no domínio do conhecimento espiritual; mas em realidade a coisa é tal como dissemos, (a saber que a forma refletida não oculta essencialmente o espelho, mas que este a manifesta). De resto, já temos explicado este ponto em nosso livro das “Revelações de Meca” (al-Futuhat al Makkiyah). Se saboreares aquilo, saboreias o extremo limite que a criatura como tal possa atingir (em seu conhecimento “objetivo”); não aspire portanto além e não canse tua alma para ir além deste grau, pois não há aí, em princípio e em definitivo, que pura não existência (a Essência sendo não manifestada).
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