Algazel (1111) – Beleza
MSRMI
Toda beleza é amada por aquele que é capaz de percebê-la, pois a percepção da beleza é, por si mesma, um deleite, amado por seu próprio valor e não por qualquer outra razão. Formas belas podem ser amadas por si mesmas, sem que haja um propósito a ser obtido delas, e isso não pode ser negado: por exemplo, coisas verdes e águas correntes são amadas por si mesmas, não por causa da necessidade de beber a água ou comer as coisas verdes. Assim também acontece com as flores, as pétalas e os pássaros, com suas cores vibrantes e formas belas e simétricas—o simples fato de vê-los já é uma alegria, e toda alegria é amada.
Não pode ser negado que onde a Beleza é percebida, é natural amá-la, e se Deus é certamente a Beleza, Ele deve ser amado por aquele a quem Sua Beleza e Majestade são reveladas. Em Deus, e apenas Nele, todas as causas do amor estão reunidas e tudo o que é amável encontra-se em sua mais elevada perfeição. Pois é a Ele que o homem deve sua própria existência e as qualidades que lhe permitem alcançar sua plenitude. Ele é o único verdadeiro Benfeitor e a Causa Última de todos os benefícios.
Se onde há beleza é natural amá-la, e se a beleza consiste na perfeição, então segue-se que o Todo-Belo, que é a Perfeição Absoluta, deve ser amado por aqueles a quem Sua natureza e atributos são revelados.
Por fim, o homem ama a Deus por causa da afinidade entre a alma humana e sua Origem, pois compartilha da natureza e dos atributos Divinos; através do conhecimento e do amor, pode alcançar a vida eterna e tornar-se semelhante a Deus. Esse amor, quando se torna forte e avassalador, é chamado de paixão (‘ishq), que nada mais significa senão um amor arraigado e ilimitado.
É razoável direcionar essa paixão Àquele de quem emanam todas as coisas boas. Na verdade, não há nada de bom, belo ou amável neste mundo que não venha de Sua bondade e seja um presente de Sua graça, uma gota do oceano de Sua generosidade.
Tudo o que é bom, belo e encantador no mundo—percebido pelo intelecto, pela visão, pela audição e pelos demais sentidos—desde a criação do mundo até seu fim, desde o alto das Plêiades até os confins da terra, não passa de uma partícula do tesouro de Suas riquezas e de um raio do esplendor de Sua glória.
Não seria razoável amá-Lo, Aquele que é descrito dessa maneira? E não é compreensível que aqueles que possuem o conhecimento místico de Seus atributos O amem cada vez mais, até que seu amor ultrapasse todos os limites?
Empregar o termo paixão para referir-se a Ele é, na verdade, inadequado, pois não expressa devidamente a grandiosidade do amor que Lhe é devotado.
Glória a Ele, que está oculto dos olhos pela intensidade de Sua luz. Se Ele não Se cobrisse com Setenta Véus de Luz, o esplendor de Seu Rosto certamente consumiria os olhos daqueles que contemplam a Beleza que é Sua.
