Algazel (1111) – Extinção (fana)
MSRMI
Quando o adorador já não pensa em sua adoração nem em si mesmo, mas está completamente absorto Naquele a quem adora, esse estado, segundo os gnósticos, é chamado de passagem da mortalidade (fanā’), quando o homem se desprende tão completamente de si que não sente mais seus membros físicos, nem o que ocorre ao redor, nem o que se passa em sua própria mente. Ele se desapega de tudo, e tudo se desapega dele—ele viaja primeiro rumo ao seu Senhor, e no fim, encontra-se Nele.
Se, durante esse estado, surge o pensamento de que ele se apagou completamente de si mesmo, isso se torna uma imperfeição e uma impureza, pois a absorção perfeita significa estar inconsciente não apenas de si, mas também do próprio estado de absorção. O fanā’ dentro do fanā’ é a meta do fanā’.
Os teólogos ortodoxos podem considerar essas palavras como sem sentido, mas isso não é verdade, pois esse estado dos místicos em relação Àquele que amam é semelhante ao estado daqueles que amam o prestígio ou a riqueza, ou até mesmo ao amor humano, quando a pessoa pode ser tomada pela ira ao pensar em um rival, ou tão absorvida pelo seu amado que nada mais percebe.
Não ouve quando alguém lhe fala, nem vê quem passa, ainda que seus olhos estejam abertos e seus ouvidos não sejam surdos—pois a absorção o torna alheio a tudo, até mesmo à própria absorção. Qualquer atenção à absorção significa desviar-se da causa dessa absorção.
Agora que a explicação do fanā’ foi ouvida, deve-se abandonar a dúvida e cessar de negar aquilo que não se pode compreender.
Essa absorção, a princípio, será como um relâmpago, durando apenas um breve instante, mas então torna-se habitual e um meio pelo qual a alma ascende ao mundo superior, onde a Realidade pura e essencial lhe é revelada, e ela recebe a marca do Mundo Invisível e da Majestade Divina.
Por fim, contempla Deus, face a face.
Quando um místico retorna ao mundo das ilusões e das sombras, ele olha para a humanidade com compaixão, pois estão privados da contemplação da beleza daquela Morada Celestial, e se admira de sua satisfação com sombras e da atração que sentem por este mundo de vãs ilusões.
Ele está presente entre os homens em corpo, mas ausente em espírito—maravilhando-se de sua presença, enquanto eles se espantam com sua ausência.
