sufismo:cem-terrenos-introducao-ansari

Cem Terrenos - Introdução (Ansari)

Ansari, 1985

Essas mil moradas são as etapas que os itinerantes em direção a Deus devem percorrer, seja para fazer avançar o servo, grau a grau, até levá-lo à satisfação e à proximidade de Deus, seja para que ele próprio atravesse etapa após etapa até a última, que será para ele a morada da proximidade. Essa proximidade, se for ultrapassada, é uma etapa; se nos demorarmos nela, é uma morada, como é o caso dos Anjos nos Céus: “Não há entre nós ninguém que não tenha um lugar marcado.” (Alcorão, XXXVII, 164), “Eles procuram o meio de estar mais próximos de seu Senhor.” (Alcorão, XVII, 57). Cada uma dessas mil moradas é uma etapa para aquele que caminha e uma morada para aquele que encontra.

São três aqueles que tratam dessa ciência: o primeiro fala por experiência própria, o segundo relata o que ouviu, o terceiro é um impostor. Aquele que fala por experiência própria, a luz aparece em suas palavras, devido à descoberta. Aquele que relata o que ouviu, um ar estranho aparece em suas palavras, pelo fato de que ele as ouviu de outros. O impostor, o afastamento e a indignidade aparecem em suas palavras. Esta ciência se baseia na descoberta; o sinal de sua autenticidade é aquilo a que ela conduz.

Mesmo que fosse apenas por um piscar de olhos, essas mil moradas não poderiam prescindir de seis coisas: o respeito aos Mandamentos, o temor da Astúcia, a necessidade da desculpa, o serviço a Deus em conformidade com a Sunna, a vida em companhia e a solicitude para com as pessoas. Além disso, a Lei está toda na Realidade, e a Realidade está toda na Lei. É sobre a Lei que a Realidade é construída. A Lei sem a Realidade é infértil, a Realidade sem a Lei é infértil, e a ação daqueles que agem sem uma ou outra é infértil.

A condição de cada uma dessas mil moradas é que você entre nelas com arrependimento e saia delas com arrependimento. Ao dizer: “Voltem todos para Deus, ó crentes!” (Alcorão, XXIV, 31), o Todo-Poderoso colocou todos os seus servos na necessidade de se arrependerem; Ele fez aparecer sobre todos a humilhação do pecado, afligindo-os com o crime da negligência e da impotência para pagar o que deviam. Não devendo nada a ninguém, Ele perdoou; à desculpa, Ele respondeu com gentilezas amorosas. Ao dizer: “Aqueles que não se arrependerem , esses serão os injustos” (Alcorão, XLIX, 11), Ele dividiu todos os homens em dois estatutos: o dos arrependidos e o dos injustos. O Eleito (que as bênçãos de Deus estejam com ele!) fez do arrependimento o afiador da indigência e a desculpa das deficiências, quando disse: “Volto para Ti com todos os meus erros; não há força nem poder senão em Deus, o Altíssimo, o Grande!”

Do encontro à amizade, há mil moradas; da atenção à familiaridade, há mil etapas. Disporemos o conjunto em cem terrenos. Que Deus nos ajude!

/home/mccastro/public_html/speculum/data/pages/sufismo/cem-terrenos-introducao-ansari.txt · Last modified: by 127.0.0.1