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Price (CRPS) – Vigília (Muraqaba)
CRPS
Murāqaba é definido por Jurjani como “a realização constante, por parte do servo, de que o Senhor está ciente de todos os seus estados”. Os autores sufis remetem-nos ao dito tradicional do Profeta: “Adora a Deus como se O visses. Se não O vês, Ele, em todo caso, vê-te.” Três categorias são distinguidas entre os ahl-i murāqaba — aqueles que se encontram neste “estado”:
(a)
Aqueles que, devido ao conhecimento da presença e consciência de Deus, instintivamente afastam todos os pensamentos malignos.
(b)
Aqueles que estão tão intensamente cientes de Sua presença que se tornam alheios a todas as coisas criadas. Como ilustração desse estado, conta-se uma história sobre Shiblī: Ele foi visitar o conhecido místico Nūrī e encontrou-o em um estado tão intenso de murāqaba que nenhum fio de seu corpo se movia. Perguntou-lhe: “De quem aprendeste essa concentração tão profunda?” Nūrī respondeu: “De um gato vigiando a toca de um rato. Mas sua concentração é muito mais intensa que a minha.” História semelhante é contada sobre Khafīf, que percorreu uma longa distância para visitar dois famosos sufis. Eles estavam tão absortos que não responderam a sua saudação. Seu exemplo teve tal influência sobre ele que permaneceu com eles três dias, sem comer nem beber. Quando suplicou que lhe dessem algum conselho antes de partir, um deles finalmente disse-lhe que seu conselho mais potente estava contido em seu exemplo.
(c)
Aqueles que abandonaram a si mesmos e seu estado, seja qual for, a Deus, como seu protetor e guardião. Estes, renunciando ao véu do ego, estão sozinhos com Deus, somente. Alguém disse a Junayd de Bagdá: “Dizes que há três véus (entre a alma e Deus): o ego, as pessoas e o mundo (nafs, khalq, dunyā).” Ele respondeu: “Esses são os véus do comum das pessoas. Os véus dos íntimos de Deus são: a visão de suas boas ações, a visão de seus méritos, a visão de seus carismas (karāmāt).” Quis dizer que é preciso buscar um estágio em que se perde de vista o próprio estado de murāqaba, tão completamente ele tomou posse de todo o ser.
O Espelho do Coração
Se o espelho do coração humano deve refletir “as formas do Invisível”, o aspirante ao conhecimento divino nunca deve cessar de polir seu coração. No quarto livro do Masnavi, Mawlānā Rūmī diz : “Se fores observante e vigilante, verás a cada momento a resposta à tua ação. Sê observante, se quiseres um coração puro, pois algo nasce em ti como consequência de toda ação. E se tens uma aspiração maior que esta, se a empreitada vai além do (nível espiritual do) observante, então, ainda que sejas escuro como o ferro, pratica o polir, polir, polir, para que teu peito se torne um espelho repleto de imagens, com uma bela forma de peito prateado refletida por todos os lados. Se o corpo terreno é grosseiro e escuro, pole-o — pois é receptivo ao instrumento de polir — para que as formas do invisível nele apareçam, e o reflexo de huris e anjos nele se projetem. Deus deu-te o instrumento de polir, a razão, para que com ele a folha (superfície) do coração se torne resplandecente. Tu, ó homem sem oração, aprisionaste o polidor e soltaste as duas mãos da sensualidade. Se a sensualidade for acorrentada, a mão do polidor será libertada. Um pedaço de ferro que se tornasse espelho do invisível — todas as formas (do invisível) seriam nele projetadas. Mas tu escureceste teu coração e deixaste a ferrugem penetrar em tua natureza. Não o faças mais.”
