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Pensar (Unamuno)

Unamuno, 2021

Afinal, para que pensar? Pensar é ruminar; o pensamento é feno. Grande pensador foi aquele capitão italiano de quem Goethe, como nos conta em sua Viagem à Itália, se despediu em Perugia, em 25 de outubro de 1786, e que disse ao olímpico Protéo germânico: “Em que está pensando? O homem nunca deve pensar: pensar envelhece. O homem não deve se fixar em uma única coisa, pois então enlouquece; é preciso ter mil coisas, uma confusão, na cabeça.”

Goethe envelheceu—ele envelheceu? Teve ele alguma vez uma idade?—pensando até os oitenta e três anos, idade em que devolveu seu cérebro ao seio da terra-mãe. Aos oitenta e dois anos, ele ainda terminava a segunda parte de Fausto, já com mil coisas, um enxame de lembranças zumbindo, mas sem mel, uma confusão na cabeça. O poeta aforístico George Meredith, por sua vez, escreveu em seu octogésimo ano um poema que, passado de sua métrica inglesa para minha desmedida espanhola, dizia:

Antigamente, eu participava da música que ouvia, Nos ramos ou, suaves, entre a Terra e o Céu, Na alegria do bater de asas no ar, Meu coração saltava no peito do pássaro.

Agora ouço e vejo seu voo, E uma vida enrugada é despertada novamente, Como será por puro amor até o último suspiro.

O mesmo Meredith, para corrigir os definidores, fez Alvan dizer em Os Comediantes Trágicos que a metáfora não deve ser, como o tratado da natureza do metafísico, “uma tocha para ver o nascer do sol”. Assim acontece, em geral, com as definições, e também com os aforismos. Exceto para os imbecis repetidores, que nunca veem o sol, mesmo depois de ele ter nascido.

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