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Dubois (DDAG) – A Questão do Mal e da Liberdade Divina

DDAG Assim, não encontramos em Abhinavagupta uma reflexão para conciliar a bondade de Deus e a existência do mal. Deus é a causa do sofrimento. Mas Deus somos nós. Deus é, portanto, o único agente e o único paciente, o único culpado e também a única vítima. É Ele mesmo quem brinca de sofrer, impulsionado por Sua liberdade sem limites, como atores que se deixam levar por seus papéis. Eles experimentam alegria mesmo em suas dores e tristezas, porque sabem, no fundo, que tudo não passa de uma comédia. É algo como um “paradoxo do ator” que Abhinavagupta busca nos fazer compreender através de sua metafísica, sua estética e sua ética tântricas. Para as outras filosofias do absoluto na Índia, a única causa do sofrimento, do “mal-estar” (duḥkha), é a ignorância. E essa ignorância, tão radical que ninguém suspeita de sua importância, é o oposto do conhecimento, assim como a luz e as trevas são incompatíveis. Abhinavagupta também admite o papel fundamental da ignorância. Mas ele acrescenta imediatamente que essa ignorância é apenas uma expressão de nossa capacidade absolutamente incondicionada. Assim, seu discurso diverge radicalmente, passando do pessimismo ascético para uma espécie de cultura do reencontro de si mesmo através de todos os aspectos da vida, “para além do bem e do mal”.

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