Elementos [Tao]

Diferentemente dos gregos que falam de “elementos” para dar-se conta da estrutura do mundo. Os chineses também falam de “elementos”, mas com a conotação de xing, quer dizer de carrefour onde se organiza uma circulação de conduta ordenada. Alguns dizem “fases”, ou ainda “movimentos”, “agentes”… Trata-se de um andamento, da maneira como se dá este andamento, do qual a vida vai, naturalmente, harmoniosa e regularmente, de maneira fiável e referenciável, à imagem dos planetas que circulam no Céu, sem falta e sem machucar-se. Trata-se da maneira de se conduzir segundo o modelo natural cósmico.A doutrina dos wu xing (Cinco Agentes, Cinco Elementos) se tornou inseparável daquela do Yin-Yang. O nome da escola que domina o período Qin Han (221AC-220DC), e logo a redação ou reescrita de um grande número de textos clássicos fundamentais.

A alternância Yin-Yang faz aparecer dois polos, atrativos um pelo outro, entre os quais a tensão e as trocas formam um terceiro (qi). Aí, no meio, surgem os sopros, em um movimento infinitamente turbilhonante da potência que produz a vida. Estes sopros, em se difundido e em se especificando, criam aquilo que percebemos como o espaço e o tempo: as quatro estações (si shi) pelos quais o Céu, circular, faz girar o tempo, os momentos e os quatro pontos cardeais (si fang) pelos quais a terra, quadrada, estrutura o espaço, os lugares. Espaço e tempo são somente concentrações de sopros diferenciados, mas que se correspondem. A reunião ao redor de um centro, permitindo a permutação, caracteriza o número Cinco (wu), os Agentes. As potências, que se difundiam segundo quatro qualificações do espaço e do tempo, se organizam e trocam seus influxos. A interação se opera pela mediação de um quinto termo, que aparece como um centro, uma passagem, um carrefour. Não é, no sentido próprio, nem uma estação (shi), nem uma direção cardeal (fang); é o deslizamento de um período de tempo a outro, a região que permite a passagem de uma porção do espaço a outra.

  • É também verdadeiro considerar que massas diferentemente orientadas ganham orientes específicos, assim como afirmar que pontos cardeais determinados atraem e assimilam massas ainda imperfeitamente determinadas.
  • É a interação, a possibilidade de permutação de sopros de qualidades diferentes que dá vida aos seres e os mantém em vida. No mundo que conhecemos, toda vida é conduzida pelo número Cinco, por esta razão.

A atividade que se desdobra entre céu e terra — e que é aquela dos vivos produzidos pelo céu/terra — opera segundo cinco modos, dando a cada uma das produções da Terra seu caráter próprio, suas qualidades naturais, seus efeitos, papeis e funções no conjunto dos dez mil seres (wan wu). Os Cinco Agentes (wu xing) representam cinco maneiras pelas quais a terra modula os sopros que recebe do céu. Não há nem menos nem mais. O céu põe em movimento (xing) os sopros; a Terra responde a isto em lhes permitindo tomar dez mil formas.

A qualidade dos sopros que formam a primavera nas estações, o leste nas direções cardeais, faz brotar o efeito de fibra que se denomina agente Madeira (mu). Da mesma forma para o verão, o sul e o agente Fogo (huo); o outono, o oeste e o agente Metal (jinn); o inverno, o norte e o agente Água (shui).

  • O quinto Agente, é a terra (tu). Permite as trocas incessantes, como no cruzamento dos caminhos, em correspondência com uma quinta estação denominada “verão que se prolonga” (chang xia), curto período de tempo permitindo a passagem de uma ano a outro, estações quentes (yang) a estações frias (yin), de uma estação a outra. Ao quinto Agente corresponde, de um ponto de vista espacial, a região central (zhong yang). Não é uma direção cardeal (fang), mas permite orientar a partir de um centro; serve de base giratória, de rele’. A qualidade de seus sopros, de sua ação, de sua natureza é uma particularização do que se denomina terra (di). Deve-se cuidadosamente distinguir o que se denomina terra (di) como pólo contraposto ao céu, na expressão céu/terra (tian di), e a terra (tu), o terreiro, como quinto Agente, centro de reunião e de difusão dos outros quatro.

É assim que os cinco Agentes são necessários à vida, enquanto seu enquadramento se faz por quatro estações e quatro pontos cardeais. Embora estes Agentes portem nomes de realidades naturais, deve-se concebê-los como “princípios ativos”, realidades agentes e emblemáticas, assim como sublinha Marcel Granet (Pensée chinoise).

Todos os seres, segundo os parâmetros compondo seu destino, são marcados mais profundamente, mais estruturalmente, por tal ou tal Agente. O lugar, o período (era dinástica, por exemplo) onde vivem são marcados igualmente por um Agente predominante. Cada um dos múltiplos momentos da vida está soba a influência mais determinante de um Agente (a impetuosidade da vida na infância ou o ardor de uma relação em seu começo será como uma primavera; em correlação com a madeira. Mas a velhice demonstrará efeitos que lembram aqueles do inverno, da água… assim como para cada manhã e cada noite…). Na constituição de um homem, seus cinco órgãos (wu zang: coração, pulmão, fígado, baço, rins) representam os cinco movimentos cuja imbricação faz a vida. A medicina chinesa tradicional repousa sobre a doutrina Yin Yang Wu Xing (Yin-Yang e Cinco Elementos ou Agentes).

Esses sopros diferenciados, esses Agentes que trocam e se influenciam, o fazem segundo normas bem precisas, não inventadas pelos homens, mas descobertas por eles na observação da natureza, do livre jogo do céu/terra, produzindo e entretendo os vivos, em mutações perpétuas, mas evoluindo segundo regras fiáveis, imutáveis, repetitivas, que a terra aceita do céu, que ela materializa e formaliza para a vida.

As duas principais modalidades das relações de sucessão entre os wu xing (Cinco Agentes) são conhecidas sob os nomes de ciclo de engendramento (sheng) e ciclo de dominação (ke). Na ordem do engendramento, da madeira provém o fogo, do fogo a terra, da terra o metal, do metal a água, da água a madeira… A ordem de dominação é: madeira, terra, água, fogo, metal, madeira…

Não faltam comentários para explicar que a água, que impregna e que desce das profundezas, pode engendrar a madeira permitindo à seiva ser produzida, mas pode também dominar o fogo, cuja chama queima e sobe… O que é importante, é o ritmo que é assim dado pela sucessão incessante dos xing (Agentes): cada um conhece seu acontecimento, sua expansão e seu declínio pois dá lugar àquele cuja potência está apta a vir dominá-lo. É assim que se cria o equilíbrio do desdobramento da vida, como um desequilíbrio perpetuamente compensado , à imagem do andamento (xing). Equilíbrio quanto mais sutil que um Agente, quando ele cede a preeminência àquele que o domina (ciclo ke), teve o tempo de vivificar (ciclo sheng) o Agente que, mais tarde, virá dominar seu vencedor (assim a madeira é dominada pelo metal, mas engendra, vivifica o fogo, que domina o metal).

Traduz-se comumente xing por Agentes, fases, agentes, movimentos… Tantos termos que seriam impotentes a dar a riqueza do ideograma, se cada um deles não incluísse o que significam os outros.

O que importa, é que a vida apareça como estrutura organizada por Cinco e se desdobrando segundo um movimento cuja grande alternância Yin-Yang é ela mesma detalhada pela dominação sucessiva de cinco qualidades, polaridades de sopros. O contínuo espaço-tempo, campo de exercício da vida, seria incompreensível sem uma organização como essa que expões a visão chinesa da Unidade distribuindo sua Virtude segundo os Cinco Agentes (wu xing).

Five elements (Chinese philosophy)

CINCO ELEMENTOS

Henry Normand: OS CINCO ELEMENTOS

Tao