Nesta passagem, Gichtel se refere à quarta prancha: “Os signos dos elementos representam a roda da Natureza exterior, o corpo sideral que se enrola em volta (do princípio do Fogo), em um mesmo Sol. Ao redor do coração, vê-se a serpente que representa o Diabo no Spiritus Mundi (quer dizer: na Matriz original) — o qual se insinua nas próprias formas de vida terrestre até o Sol. O círculo ou globo ao redor do Sol representa o mundo da Luz, que é oculto. E o Globo obscuro (aqui o Autor se refere não mais à prancha IV mas à prancha V, cujo globo corresponde ao centro do mercúrio). O Sol até o qual se insinua a serpente, é o princípio central do homem ou, o que dá no mesmo, o princípio personalidade, o princípio Eu — ao qual corresponderia, no corpo reintegrado, a presença do Cristo. A serpente que cerca o Sol do coração, é a forma ávida, contraída, concupiscente, assumida pelo Fogo divino, a qual usurpa o lugar central do Pai do Homem perfeito e vivo. O enrolamento da serpente, é o nó da personalidade, o apego ao Eu — confirmando a reunião da consciência e do corpo animal corruptível.
Citaremos outra passagem de Gichtel sobre o misterioso “globo”: “A vida da alma emana do fogo interno eterno que tem seu CENTRO no coração, mas mais profundo; ele é representado como um globo escuro colocado abaixo do coração. É o Dragão ardente ou Espírito deste Mundo, e está unido à primeira vida como o homem está à mulher; sua raiz está no Abismo (na potência original de Deus). Ele gera sete estados, que são os sete selos que impedem que os não regenerados percebam o fogo divino” (II, 6, 7). E novamente: “Abaixo do coração, onde está a divina Luz do mundo (no Homem Vivo), está o divino olho MÁGICO das Maravilhas, e o Fogo que para os regenerados é o lugar onde o Pai (Jehova) gera seu Filho (Cristo), que está no coração. Para os outros, é (apenas) o Fogo da Ira divina. . . . É a base do Céu, do Inferno e do mundo visível, de onde o bem e o mal nascem como luz e escuridão, vida e morte, bem-aventurança e condenação. . . . É chamado de GRANDE MISTÉRIO porque contém duas essências e duas vontades” (IV, 18, 19, 20).
Esse globo, colocado na figura 4 próximo ao baço, corresponde, portanto, ao “inferno” em dois sentidos: no sentido de substrato e potência original, anterior e superior a qualquer individuação e polaridade e até mesmo à pessoa divina de Cristo, que é uma “produção” dele; e no sentido negativo de um fogo insaciável e consumidor (portanto, relacionado ao símbolo cristão do inferno), que é a maneira como o mesmo princípio aparece e age nos seres caídos. Em ambos os casos, é um poder dentro do indivíduo que vai além do indivíduo e, portanto, pode formar a base da Obra.