Olho do Coração

André Allard l’Olivier — A ILUMINAÇÃO DO CORAÇÃO
Tradução do capítulo VIII|nocache
O OLHO DO CORAÇÃO
Segundo uma imagem que se encontra um pouco por toda parte, a unidade do intelecto agente e de Deus, de que fala Ruysbroeck e onde a alma é, se assim se pode dizer, tangente ao Absoluto divino, é o «Olho do Coração ou, como diz Platão (República VII 519 b), o «Olho do nous», o órgão feito para ver Deus (id. 518). Nos Efésios I,18, São Paulo escreve: «illuminatos oculos cordis vestri…»; no sufismo, o Olho do Coração é ‘Ayn al-Qalb, al-Qalb sendo o Coração, «tabernáculo do mistério divino no homem»; no Corpus Hermeticum, é questão, em numerosos lugares, seja dos olhos do intelecto (por exemplo: V,2: «Se o podes, ó Tat! Aparecerás aos olhos de teu intelecto, tou nou ophthalmois), seja dos olhos do coração (em IV,11: «Tal é portanto, ó Tat! a imagem de Deus… se a contemplas exatamente e a representas para ti com os olhos do coração tes kardias ophthalmois, encontrarás o caminho que leva às coisas do alto). E a Sexta Beatitude (mateus V,8) não diz: Beati mundo corde, quoniam ipsi Deus videbunt? São Bernardo, nos Graus da humildade, capítulo VI, escreve: «É portanto em despejando lágrimas, em tendo fome de justiça e em praticando as obras de misericórdia, que o Olho do Coração é purificado de todas as manhcas que contraiu pela enfermidade, a ignorância e o desejo; e é no estado de sua pureza que a verdade lhe promete de a ele se mostrar: «Bem-aventurados são os puros de coração, porque verão Deus». Mas é ainda Mestre Eckhart que, em seu sermão Qui audit ME non confundatur, se exprime com mais força: «O Olho no qual vejo Deus é o mesmo que aquele no qual Deus ME vê; meu Olho e o Olho de Deus são um único e mesmo Olho». É verdade que este texto, embora não figurando na Bula de João XXII, fez objeto de uma censura eclesiástica; mas esta censura visava menos o fundo de um ensinamento que é reto quando se compreende ele como é preciso, que uma forma muito elíptica e, por aí mesmo, suscetível de perdição. O grande mestre renano não é um panteísta se, por panteísmo, entende-se esta pseudo-doutrina que identifica Deus e o mundo; ele diz somente, de uma maneira que pode levar à confusão, o que São Paulo dizia aos Coríntios (1Cor, 12,12): «Agora, vemos em um espelho, de uma maneira obscura; então, será face à face. Agora, conheço de uma maneira imperfeita, mas então conhecerei como sou conhecido.»