AS GUERRAS CELESTES E A GNOSE (ICEE)

[ICEE]

As Guerras Celestes e a Gnose

Tradução de Antonio Carneiro

  • ANJOS DAS NAÇÕES

  • ANJOS DOS POVOS

Tomando a conclusão do capítulo temos um bom resumo do que trata:

Seguimos as vicissitudes, em Grécia, da escatologia celeste, a aparição de uma ideia de um receptáculo uraniano das almas e de um Inferno celeste, a demonização progressiva do mundo terrestre, da atmosfera, dos céus. [vide: DEMONIZAÇÃO DO COSMOS E DUALISMO GNÓSTICO.

Chegamos à conclusão que a escatologia celeste nas obras de Platão não provém de elaborações pitagóricas e não pressupõe necessariamente uma influência iraniana. Deriva mais de uma camada de crenças arcaicas sobre as relações almas-astros e das primeiras teorias sobre a natureza ígnea ou aérea da alma.

A generalização da escatologia celeste, a transferência do inferno para os céus, não poderia ser obra exclusiva de Heráclides do Ponto, cuja influência sobre o espírito do helenismo parece bastante limitada. Ao contrário, a incompatibilidade entre a doutrina animológica estoica e a ideia de uma descida da alma aos infernos deve ter representado um certo papel na formação desta nova síntese.

A “HARMONIZAÇÃO DO COSMO”, fenômeno dominante a partir do primeiro século depois de Jesus Cristo, bem representado sobretudo pelos sistemas gnósticos, explica-se pela generalização da escatologia celeste, por extensão aos céus do purgatório aéreo e por influência das doutrinas dualistas órfico-pitagóricas e motivos pré-dualistas judeus.

Os celestes Anjos das Nações, que tornaram-se, cerca do fim dos Tanaítas, responsáveis por todos os fenômenos físicos [tanto da natureza quanto da história], sofreram uma “demonização” evidente, causada pela ocupação romana e reforçada pela queda do Templo. Seu chefe tornou-se fatalmente o anjo de Roma, uma vez que Roma era a mestre do mundo. Enfim, Roma era uma potência má e, por consequência, o próprio Satã tornou-se o anjo de Edom. À ele lhe coube, como chefe de outros Anjos das Nações, o título de “Príncipe do Mundo”.

Esses desenvolvimentos doutrinais, que desembocavam sobre o verdadeiro dualismo, são projetados sobre um esquema cosmológico já elaborado no meio grego, a partir de crenças arcaicas relativas às catábases infernais e pelas novas teorias astronômicas. A astrologia tem também um papel importante a representar nessas transformações.

As doutrinas dualistas gregas, sob suas formas arcaicas órficas-pitagóricas ou sob as formas que elas assumem na ontologia platônica [origem hiper-uraniana e queda da alma neste mundo], têm incontestavelmente representado um papel de primeiro plano na nova síntese. Eles têm constituído provavelmente o catalisador subterrâneo do clima dualista que caracteriza este período.