CORBIN (CETC) – SPENTA ARMAITI, ENQUANTO SOPHIA E ARCANJO FEMININO DA TERRA

Uma exposição desta geosofia tenderá, portanto, a esboçar o conteúdo de uma sofia mazdeísta. Este próprio termo "geosofia" proposto aqui não faz mais do que transcrever o nome de Spenta Armaiti, que é Sophia e Arcanjo feminino da Terra. O que ela faz aparecer em primeiro lugar é a condição totalmente diferente que podem ao mesmo tempo expressar e impor ao homem, por um lado o simples sentimento de ser "filho da Terra" - eis uma proposição banal - e por outro lado o sentimento afirmado propriamente na profissão de fé mazdeísta, que faz do indivíduo humano o filho de Spenta Armaiti, o Arcanjo feminino da Terra.

Aqui, o segundo termo da relação de filiação não é o homem aprisionado entre os dois limites do nascimento e da morte terrestres; é o indivíduo humano em sua totalidade, compreendendo o passado de sua pré-existência e o futuro de sua sobre-existência. A relação de filiação com Spenta Armaiti, o Arcanjo, estende-se do Eu celeste pré-existente a esse Eu celeste ao qual ela deve gerar o homem. É a consumação de uma forma de existência que teve como prelúdio no Céu a aceitação dramática pelas Fravartis de descer à Terra material para ali travar o combate em auxílio às Potências celestes da Luz contra todos os demônios de face humana. É para a alma humana ter escolhido vir à Terra para ali responder pelas Potências da Luz, assim como estas responderão por ela post mortem.

Por isso, esta escolha será igualmente seu juiz. Participando a cada momento do Aiôn na obra final dos Saoshyants, cada alma de luz deve lutar pela Transfiguração da Terra, pela expulsão das Potências demoníacas para fora da criação ohrmazdiana. E a visão que transmuta a Terra e as coisas da Terra em símbolos inaugura já a restituição da Terra à sua pureza paradisíaca; é na medida desta restituição que se mede a vitória da alma descida à existência terrestre, ou seja, a medida de seu Xvarnah, o grau de seu crescimento em sua existência celeste futura, em seu corpo de ressurreição, cuja substância é feita reciprocamente desta Terra celeste que é sua ação e sua obra.

Assumir tal obra é precisamente para o homem assumir em seu próprio ser o que os textos pálhavis designam como Spandannatikih, nome abstrato derivado de Spandarmat (forma pálhavi do nome de Spenta Armaiti), e que podemos traduzir como sofianidade, natureza sofianica de Spenta Armaiti considerada como Sophia (em acordo com a tradução de Plutarco e com os textos pálhavis). É assumindo esta natureza que o ser humano é então no sentido verdadeiro o filho daquela que é o Anjo da Terra, e que ele pode ter dela a visão mental. Então também a alma desperta para a consciência de sua parentela celeste.

Ao redor de Daênâ, que é a filha de Spenta Armaiti e que é ela própria Sophia, estão consteladas estas figuras de Anjos-deusas cujas hierofanias são descritas no Avesta em termos prestigiosos (Chisti, Ashi Vanuhi, Arshtât, Zamyât, Ardvî Sûrâ Anâhitâ). Elas revelam as formas pessoais sob as quais se propuseram experimentalmente à consciência mazdeísta as exemplificações de um mesmo arquétipo, símbolo central pelo qual se anunciam ao homem a totalidade e a completude de seu ser. Aqui, a experiência se esquematizou conformemente à angelologia fundamental da visão mazdeísta do mundo. No pleroma celeste foi reconhecida e experimentada a presença de um Arcanjo feminino da Terra. Esta relação funda o sacramentum Terrae mazdeísta, o mistério sofianico da Terra.