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É possível apresentar outra particularidade do amor. O amante deve reunir dois aspectos antitéticos para que a forma do seu amor seja perfeita quando ele é dotado de livre arbítrio (ikhtiyâr). Essa característica faz a diferença entre o amor natural (tabi'î) e o amor espiritual (rûhânî). Ora, somente o homem tem a possibilidade de reunir esses dois tipos de amor, ao contrário dos animais, que, em seu amor, não reúnem esses dois aspectos antinômicos. Somente o homem os sintetiza em seu afeto amoroso, pois foi moldado segundo a Forma de Deus, que às vezes se qualifica por atributos antinômicos, como neste versículo: Ele é o Primeiro e o Último, o Exterior e o Interior... (Alcorão LVII, 3).
A razão da síntese destes dois aspectos antitéticos no amor humano reside nas características que lhe são inerentes: o amor pela união com o amado e o amor pelo que este ama. Se, por exemplo, este ama a separação, o amante também a amará. Ele pode então comportar-se de maneira contrária às exigências do amor, uma vez que o amor exige união. Se, por outro lado, o amado ama a união, ele pode chegar a uma atitude incomum em matéria de amor, pois o amante ama o que o amado ama. Ora, nesse caso, ele não age assim. Devemos concluir que, em todas as circunstâncias, o amante permanece sempre sob o domínio do amado. O meio-termo entre essas duas posições extremas é que o amante ama o amado pela separação que este aprecia e não pela separação em si, ao mesmo tempo que ama a união. Não há melhor maneira de sair dessa dificuldade!
Este caso pode ser assimilado ao do ser satisfeito com o Decreto divino (qadâ), pois o termo satisfação se aplica validamente a ele, mesmo que ele não concorde com seu objeto, por exemplo: a infidelidade.
Como é na Lei divina, assim será no amor. O amante ama a união com o amado e, portanto, amará o amor que o amado sente pela separação e não a separação em si, pois esta não é o que o amado ama essencialmente. Da mesma forma, o Decreto não é a coisa em si decretada, mas sim o estatuto (hukm) de Deus sobre o que é decretado e não a coisa em si decretada. É por isso que devemos estar satisfeitos com a Decisão (hukm) de Deus (sem necessariamente estar satisfeitos com o seu objeto).
O amor que caracteriza os animais não é dessa natureza, pois neles se trata de um amor físico (tabî'î) e não espiritual. O animal busca exclusivamente a união com o parceiro que ama, sem ter consciência de que este compartilha esse afeto, pois não o sente.
Por essa razão, classificamos o amor próprio do homem em duas categorias: o amor natural ou físico que ele compartilha com os animais, e o amor espiritual pelo qual ele se separa e se distingue do amor animal.
Dito isso, saiba que o amor é de três tipos e não mais: divino, espiritual e natural ou físico.
O amor divino é aquele que Deus tem por nós. O amor que temos por Ele pode ser aplicado a esse tipo de amor.
O amor espiritual é aquele do amante que se apressa em satisfazer o amado. Nada permanece nele, nem intenção nem vontade, que possa se opor ao amado. Além disso, o amante permanece inteiramente dependente da vontade do amado.
O amor natural é aquele do amante que busca a plena satisfação de seus desejos, independentemente de essa pressa agradar ou não ao amado. A maioria dos homens atualmente é governada por esse tipo de amor.
Começaremos, portanto, por tratar do amor divino no capítulo seguinte. Em seguida, faremos uma exposição sobre o amor espiritual e, em terceiro lugar, mostraremos o que é o amor natural.
E é Deus quem diz a verdade e guia no caminho!