RUMI (MASNAVI:VI,210-225) – A CARGA DA EXISTÊNCIA

  1. De Ti veio primeiro este fluxo e refluxo dentro de mim; senão, ó glorioso, este mar [meu] estava quieto. Da mesma fonte de onde me deste esta perplexidade, graciosamente [agora] me faça despreocupado da mesma forma. Tu estás me afligindo. Ah, ajuda [me], ó Tu por cuja aflição os homens são [enfraquecidos] como mulheres. Por quanto tempo [irá] esta aflição [continuará]? Não [me aflija], ó Senhor! Conceda-me um caminho, não me faça seguir dez caminhos! Eu sou [como] um camelo emaciado, e minhas costas estão feridas por meu livre arbítrio que se assemelha a uma sela de carga.

  2. Em um momento este alforje pesa muito para este lado, em outro momento aquele alforje cede para aquele lado. Deixe a carga desequilibrada cair de mim, para que eu possa contemplar o prado dos piedosos. [Então], como os Companheiros da Caverna, devo folhear o pomar de Bounty — não acordados, não, eles estão dormindo. Reclinarei à direita ou à esquerda, não rolarei a não ser involuntariamente, como uma bola, Assim como Tu, ó Senhor do Juízo, me viras para a direita ou para a esquerda.

  3. Centenas de milhares de anos eu estava voando [para lá e para cá] involuntariamente, como os ciscos no ar. Se esqueci esse tempo e estado, [ainda] a migração no sono [para o mundo espiritual] me traz à memória. [Todas as noites] eu escapo desta cruz de quatro galhos e saio deste [confinado] lugar de parada para o [espaçoso] pasto do espírito. Da ama, Dorme, sugo o leite dos meus dias passados, ó Senhor. Todas as [pessoas no] mundo estão fugindo de seu livre-arbítrio e [auto-]existência para seu lado bêbado [inconsciente].

  4. Para que por algum tempo eles possam ser libertos da sobriedade [consciência], eles colocam sobre si mesmos o opróbrio do vinho e dos menestréis. Todos sabem que esta existência é uma armadilha, que o pensamento volitivo e a memória são um inferno. Eles estão fugindo do egoísmo para o altruísmo, seja por meio de intoxicação ou por meio de ocupação [por vezes absorvente], ó homem bem-conduzido. Tu [ó Deus] tiras a alma daquele estado de não ser porque ela entrou na inconsciência sem Tua ordem. Nem para os gênios [gênios] nem para a humanidade é [possível] atravessar a prisão das regiões do mundo temporal.