ANIRVAN (LRVV) – BAUL E SUFI

LRVV

No sahaja, há uma estreita correspondência entre o baul e o sufi, desde que a “corrente subterrânea” da vida espiritual — aqui aludida ao rio sagrado, o invisível Sarasvatî, que representa o esforço individual — leve a mente a fazer com que cada um possa compreender o “segredo” e vivê-lo na sua própria luz.

Assim que tentamos descrever o hinduísmo em círculos e ciclos, e o sufismo em quatro graus, ficamos perdidos. Entramos imediatamente no mundo da divisão e das disputas.

Como os sufis abordaram os Upanishads? Porque eles cantam a liberdade que estes contêm. A maioria não os conhece. Mas cada um, na sua hora, deve quebrar a casca que o envolve para penetrar no conhecimento, como um pintinho bem formado deve, na sua hora, quebrar a casca do ovo, se quiser viver sua vida.

Na etapa final, não há mais disciplina, mas uma consciência constante do ser. Se todo o ser está mergulhado em sahaja (em fana, diz o sufi), eu “sei” como, dentro de mim, sem esforço, se estabelece a corrente de uma relação justa que dissolve o que há de falso e de defeituoso em meu relacionamento comigo mesmo ou com o próximo.

Sufis e bauls caminham juntos na vida e bebem da mesma fonte eterna, acima de todo sectarismo. Para eles, não há iniciação formal; no entanto, eles falam de dois tipos de iniciação.

Uma é comparada ao sol que toca um botão de flor para fazê-lo desabrochar. Sem ritualismo e sem palavras, um poder é transmitido pelo simples irradiar do mestre para o seu discípulo. É tudo. O botão de flor mantém toda a sua individualidade.

A outra iniciação, ainda mais elevada, é comparada ao sol que absorve o orvalho em si mesmo. Com um olhar, o mestre reconhece o verdadeiro discípulo, seja ele baul ou sufi. O olhar capta o reflexo do ser como num espelho, então os olhos do mestre e do discípulo se fecham. Mas a corrente entre eles continuará até a eternidade. Esse processo foi chamado de saturação.

Mas, em determinado momento, o mestre se torna o obstáculo necessário para o desabrochar do discípulo. O culto à pessoa cai, o culto às ideias também. Surge a pergunta: “Por que eu obedeço?” E a resposta é: o guru do guru do meu guru caminha à frente, no mesmo caminho em que eu caminho. Será que eu, sozinho, posso chegar à fonte e afastar todos os intermediários?

É nesse momento que começa uma longa e silenciosa guerra contra o guru, com muitas etapas dolorosas. O verdadeiro guru sentirá essa luta. Ele assiste aos movimentos desordenados do seu discípulo e sua bondade é tal que lhe falará sobre “aquele” que caminha à frente, sobre a lei do trabalho interior, mas sem fazer nada para atenuar a luta que se iniciou.

O sahaja está no fim da etapa do discípulo, quando este finalmente abre os olhos do coração e compreende seu desvio. A esse respeito, Keshab Das [século XVI] disse: “Descubro que sou o que era, mas entre os dois tudo é complicações. Agora vejo...”. A verdade é o objetivo, por ela a unidade de todas as coisas pode ser percebida. Ora, essa verdade é sahaja.

O mestre de um baul ou de um sufi não ensina nada diretamente, ele apenas estimula seu discípulo por meio de sugestões. Após sua iniciação, o discípulo sente que uma força o empurra para frente, mas ele sempre lutará sozinho no mundo que o rodeia, no coração mesmo de todas as complicações da vida.