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Esses seres iluminados, diáfanos como raios na luz solar, não devem, contudo, desprezar aqueles que utilizam meios, que seguem caminhos progressivos, diretos ou indiretos. Porque, em primeiro lugar, esses "Senhores disfarçados" são o mesmo ser que todos os outros seres. Todos os meios têm o mesmo ponto de chegada, o meio último que não é mais um meio, mas o próprio objetivo: tudo é luz. Apenas a ideia de que há sombra se perde, pouco a pouco, na luz do sol, à medida que ela se aproxima do zênite. Tudo isso é um único e mesmo movimento que abrange ignorância, conhecimento parcial e progressivo, tudo em direção a um conhecimento integral.
Com isso, os ritos — que constituem, afinal, o cotidiano do shaiva — estão salvos. Eles também conduzem à evidência, contanto que sejam como um discurso que a descreve, em vez de serem como uma atividade que desejaria construí-la. Mas essa concepção do ritual só assume conscientemente esse sentido nos ritos das tradições esotéricas do Trika e do Krama.
Abhinavagupta pode, assim, dar-se ao luxo de incluir um programa quietista no topo de seu edifício teológico, ao mesmo tempo em que legitima os ritos sem os quais a comunidade dos sacerdotes shaivas não poderia viver. Há, portanto, uma espécie de gradação das práticas, moldada na das tradições religiosas, cada nível levando ao nível superior e dele tirando sua eficiência, em uma espécie de vasta hierarquia cósmica.
Se considerarmos essa "não-método" como um caminho, devemos então entender que ela não mostra o Si, mas simplesmente elimina a ideia de que o Si é outra coisa senão o Senhor. Não há, portanto, demonstrações da existência de Deus, mas apenas demonstrações da natureza divina do Si. No fundo, não se trata de dar a conhecer algo novo, um fato inédito, mas sim de conectar entre si fatos antigos, comprovados, mas de uma maneira nova. Tal é o reconhecimento do Si como sendo esse Senhor (pratyabhijnā) de que falam as diferentes religiões teístas.