DDAG
Paradoxalmente, essa metáfora da luz parece excluir qualquer acesso ao Si. Esse paradoxo também é encontrado no domínio da existência. Na verdade, isso é bem normal, pois para Abhinavagupta, existir é aparecer, ser manifesto, luminoso:
"O senso comum atribui a existência, caracterizada pelo fato de ser definida, a tudo o que aparece no modo do 'isto', como um vaso. Mas Bhairava (isto é, o Si) não é assim" (TĀ II, 29).
O Si é a existência, mas não é a existência disto ou daquilo. É manifestação, mas manifestação ilimitada. Não é uma coisa, objetificável, que pode ser indicada, delimitada por uma forma, em um momento e lugar precisos, como um vaso. Mas também não é a não-existência, pois:
"Ele é a Existência, a vida de tudo e a luz simples que constitui (tudo o que é real ou irreal)" (TĀ II, 30b).
Se não conseguimos apreendê-lo, não é porque ele não existe, mas porque ele existe em excesso. Paradoxalmente, é o caráter ilimitado de sua presença que o faz passar despercebido. Por isso, ele também escapa à linguagem. Não pode, portanto, ser descrito nem indicado para uma prática.
Isso significa que não há meios? Mas então, para que servem as explicações de Abhinavagupta sobre as diferentes abordagens e métodos ensinados pelo Senhor em seus tantras?
Em primeiro lugar, esse discurso se dirige a todos, mas poucos o compreendem. Em outras palavras, o Senhor escolhe não se reconhecer na maioria das criaturas. Tal é a economia da Graça, da qual Abhinavagupta tenta uma teoria, sempre delicada em um sistema dualista. É por isso que ele esclarece que tudo isso se aplica apenas a alguns eleitos, embora haja aí uma espécie de ciclo: não se sabe se esses seres são purificados pela Graça ou se, ao contrário, sua pureza os tornou dignos dessa Graça. No entanto, ao ler as passagens dedicadas à exposição desse "não-método", fica claro que Abhinavagupta não se contenta em descrever uma experiência dada a alguns, não se sabe como. Pelo contrário, ele argumenta e instrui.