ASTROS — ESTRELAS — SIRIUS
nascer helíaco de Sírio
Excertos de René-André Lombard, “L’Enfant de la nuit d’orage”
O céu do Sul às 21:30 em fevereiro, meridiano de Paris: o quadro Sirius-Orion-Touro-Plêiades atinge o meio da abóbada celeste, à margem da Via Láctea onde brilham os Gêmeos
Se admitimos que as palavras não foram lançadas ao azar, neste fim de noite, Sirius, «eti messeres», ainda no meio do céu, vai no entanto ser apagada pela aurora.
Quando um astro, tem sua aparição no horizonte, se dilui nos raios nascentes do sol que surge logo depois dele no Oriente, chama-se este nascer seguido de apagamento na aurora: nascer helíaco. É o momento privilegiado que anuncia no ano o retorno de um astro sazonal que poderia ter desaparecido há longos meses. Ele desempenha um papel capital no calendário, no ritual sazonal e no pensamento astrológico.
Eis-nos portanto NAS NOITES QUE SEGUEM O NASCER HELÍACO DE SIRIUS.
Lembremos brevemente quem é Sirius.
É a estrela mais brilhante do céu inteiro (incluindo o hemisfério sul). É um sol distante mais brilhante que o nosso e compreende-se que seu nome para os gregos, construído sobre este tema SW.L/SW.R1 que não cessa de reinar em nosso estudo, foi sinônimo de «cintilante».
Sua situação sob a eclíptica a faz uma estrela sazonal, invisível uma parte do ano. Quando ela está presente, (para os modernos no inverno) ela brilha ao Sul, muito próximo do horizonte, ao pé da Via Láctea, que parece ter sua fonte neste ponto luminoso excepcional. Como a Via Láctea é, em uma tradição quase universal, a imensa maré sideral das almas, apreende-se a importância desta imagem sem a elaboração dos mitos e dos ritos.
Sirius era, sob o nome de Sothis2 ou Sepet, a base mesma do calendário dos egípcios (grande ciclo do período «sotíaco»). Por volta de 3000 a. J.C., seu nascer hélico coincidia com a irrupção súbita das águas do Nilo cuja inundação transformava o vale poeirento em um lago fértil.
Como o ciclo da vida e da morte, na mentalidade analógica que caracteriza os tempos antigos, não é senão o espelho dos movimentos das forças siderais, esta início de Ano3 Marcava-se ela de ritos prolongados em alegria e festividades inesquecíveis. Sirius-Sothis, figurada em Ísis, desempenhava um papel de primeira importância na migração das almas para o Além. Sua presença no tetos astronômicos — e sobretudo nas coberturas dos sarcófagos — ao lado da cabeça do morto, testemunham disto.
Na representação astronômica mais corrente e que permanece aquela de nossas cartas celestes, Sirius formava a cabeça brilhante do Cão, Astrokuon, o Astro-Cão, Maira a Cadela.
Constelação famosa no mundo egípcio e greco-latino, objeto de um mundo de crenças religiosas, medicais, assim como calendários e meteorologia, o Astro-Cão foi objeto de uma tal multitude de representações em pequenos amuletos a portar, que tomou o nome de Canícula, a pequena cadela, da qual se fez o termo «canícula». Nestes tempos, com efeito, a constelação presidia aos calores do pleno verão, o que veio a cessar de fazer.
Escutai ressoar nesta «encantação» do fim da noite os temas de poder, o tema de passagem pelo além, que se fundam na harmonia final do vocábulo da luz celeste por excelência: SwR: Seirios. ↩
W.P.: Opa, a abertura, o olho aberto, que reina também nos vocábulos mitológicos gregos. ↩