Tag: ser – ente – ontologia
-
É-se
(Lispector1973) Atrás do pensamento não há palavras: é-se. Minha pintura não tem palavras: fica atrás do pensamento. Nesse terreno do é-se sou puro êxtase cristalino. É-se. Sou-ME. Tu te és. […] Ouve-ME, ouve meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. […] Capta essa outra coisa de que na…
-
Sou o és-tu
(Lispector1973) A harmonia secreta da desarmonia: quero não o que está feito mas o que tortuosamente ainda se faz. Minhas desequilibradas palavras são o luxo de meu silêncio. Escrevo por acrobáticas e aéreas piruetas – escrevo por profundamente querer falar. Embora escrever só esteja ME dando a grande medida do silêncio. […] E se eu…
-
Sou o quê
(Lispector1973) Mas sou o quê? a resposta é apenas: sou o quê. Embora às vezes grite: não quero mais ser eu!! mas eu ME grudo a mim e inextrincavelmente forma-se uma tessitura de vida. Quem ME acompanha que ME acompanhe: a caminhada é longa, é sofrida mas é vivida.
-
A palavra mais importante da língua: É
(Lispector1973) Entende-ME: escrevo-te uma onomatopeia, convulsão de linguagem. Transmito-te não uma história mas apenas palavras que vivem do som. […] Tudo o que te escrevo é tenso. Uso palavras soltas que são em si mesmas um dardo livre: “selvagens, bárbaros, nobres decadentes e marginais”. Isto te diz alguma coisa? A mim fala. Mas a palavra…
-
Eu é
(Lispector1973) Estou de olhos fechados. Sou pura inconsciência. Já cortaram o cordão umbilical: estou solta no universo. Não penso mas sinto o it. Com olhos fechados procuro cegamente o peito: quero leite grosso. Ninguém ME ensinou a querer. Mas eu já quero. Fico deitada com olhos abertos a ver o teto. Por dentro é a…
-
O instante é de um escuro total
(Lispector1973) Espere: está ficando escuro. Mais. Mais escuro. O instante é de um escuro total. Continua. Espere: começo a vislumbrar uma coisa. Uma forma luminescente. Barriga leitosa com umbigo? Espere – pois sairei desta escuridão onde tenho medo, escuridão e êxtase. […] Agora as trevas vão se dissipando. Nasci. Pausa. Maravilhoso escândalo: nasço.
-
Quero captar o meu é
(Lispector1973) Só no ato do amor – pela límpida abstração de estrela do que se sente – capta-se a incógnita do instante que é duramente cristalina e vibrante no ar e a vida é esse instante incontável, maior que o acontecimento em si. […] E no instante está o é dele mesmo. Quero captar o…