Torna-se fácil compreender que a razão de se representar uma árvore invertida, antes de tudo, figurar a raiz a representar o princípio, enquanto que os ramos representam o desdobramento da manifestação. Mas, a essa explicação geral, é oportuno acrescentar certas considerações de caráter mais complexo, baseadas na aplicação do “sentido inverso” da analogia (v. analogia inversa), à qual se refere de modo evidente a posição invertida da árvore.
Em apoio a essa consideração, A. K. Coomaraswamy cita as duas árvores invertidas descritas por Dante como próximas do topo da “montanha”, imediatamente abaixo do plano em que está situado o Paraíso terrestre; quando este é alcançado, as árvores parecem restituídas a sua posição normal. Assim, essas árvores, que na realidade parecem ser tão-somente aspectos diferentes da “Arvore” única, “apenas estão invertidas abaixo do ponto em que ocorre a retificação e a regeneração do homem”. É importante notar que, embora o Paraíso terrestre seja ainda, de fato, uma parte do “cosmos”, sua posição é virtualmente “supracósmica”; poderíamos dizer que representa o “ápice do ser contingente” (bavagra), de modo que seu plano se identifica à “superfície das Águas”. Com esta superfície, que deve ser considerada essencialmente como um “plano de reflexão”, somos reconduzidos ao simbolismo da imagem invertida por reflexo, à qual nos referimos ao tratar da analogia: “o que está em cima”, ou acima da “superfície das Águas”, isto é, o domínio principal ou “supracósmico”, reflete-se em sentido inverso “no que está embaixo”, ou abaixo dessa mesma superfície, isto é, no domínio “cósmico”. Em outros termos, tudo o que se encontra acima do “plano de reflexão” está direito, e tudo o que se encontra abaixo está invertido. Portanto, supondo que a árvore esteja acima das Águas, o que vemos quando estamos no “cosmo” é sua imagem invertida, com as raízes para cima e os ramos para baixo. Ao contrário, se nos colocarmos acima das Águas, não veremos mais essa imagem que, agora, por assim dizer, acha-se sob os nossos pés, mas teremos sua fonte diante de nós, ou seja, a árvore real, que se apresenta então em sua posição direita. A árvore é sempre a mesma, o que mudou foi a nossa situação em relação a ela e, por conseguinte, também o ponto de vista pelo qual a encaramos.
A árvore invertida não é apenas um símbolo “macrocósmico” (v. árvores superpostas); é também, às vezes, e pela mesma razão, um símbolo “microcósmico”, ou seja, um símbolo do homem (v. planta celeste). [Guénon]