Para justificar de modo mais completo o caráter “zodiacal” do plano tradicional da cidade, citaremos agora alguns fatos que mostram que, se a repartição correspondia principalmente à divisão quaternária do ciclo anual, há casos em que uma subdivisão duodenária era indicada de forma clara. Temos um exemplo disso na fundação das cidades segundo o rito que os romanos haviam recebido dos etruscos: a orientação era marcada por duas vias perpendiculares, o cardo, indo do sul ao norte, e o decumanus, indo do oeste ao leste; nas extremidades dessas duas vias ficavam as portas da cidade, que se encontravam assim situadas exatamente nos quatro pontos cardeais. A cidade estava desse modo dividida em quatro quarteirões, que, no entanto, nesse caso, não correspondiam precisamente aos pontos cardeais como na tradição hindu, mas sim aos pontos intermediários. E é claro que precisamos levar em conta a diferença das formas tradicionais, que exigem adaptações diversas; mas nem por isso o princípio da divisão deixa de ser o mesmo. Por outro lado, e é o ponto que importa sublinhar agora, a essa divisão em quarteirões superpunha-se uma divisão em “tribos”, isto é, segundo o sentido etimológico da palavra, uma divisão ternária. Cada uma das três “tribos” compreendia quatro “cúrias”, repartidas nos quatro quartéis, de modo que se tinha assim, em definitivo, uma divisão duodenária. [Guénon]
Do ponto de vista do simbolismo numérico, é preciso notar ainda que o conjunto dos três quadrados forma o duodenário. Disposto de outro modo, esses três quadrados, aos quais se juntam ainda quatro linhas em cruz, constituem a figura na qual os antigos astrólogos inscreviam o Zodíaco. As quatro linhas em cruz são, então, colocadas diagonalmente em relação aos dois quadrados extremos, e o espaço compreendido entre eles fica dividido em doze triângulos retângulos iguais. Essa figura era também considerada como a de Jerusalém Celeste, com suas doze portas, três em cada um dos lados, o que possui uma relação evidente com a significação que acabamos de indicar para a forma quadrada. [Guénon]