Do grego ek = fora de; stasis = estado.
Segundo Pierre Riffard, estado de consciência vivido como uma separação da alma do corpo e como uma união da alma com um princípio, a sensibilidade sendo suspensa.
Formas:
*êxtase comum: exaltação
*êxtase mórbido: delírio, alucinação, fantasma.
*êxtase místico: união com Deus ou um Princípio, acompanhada de beatitude.
*êxtase xamânico: ascensão celeste ou descida infernal ou viagem espacial com uma objetivo prático (ver os ancestrais, cura, etc.)
Particularmente criativas foram as experiências de êxtase dos xamãs, ou seja, suas viagens ao céu ou ao mundo dos mortos. Representando uma separação momentânea da alma e do corpo, o êxtase era, e ainda o é, considerado uma antecipação da morte. O xamã era capaz de viajar por mundos espirituais e ver seres sobrenaturais (deuses, demônios, espíritos dos mortos) e, por isso, contribuir extensivamente para o conhecimento da morte.
Com toda probabilidade, muitas características da “geografia funerária” assim como de temas da mitologia da morte, resultam de experiências extáticas dos xamãs. As terras vistas por ele e as personagens que encontra em suas viagens extáticas ao outro mundo são minuciosamente descritas pelo próprio xamã, durante ou após seu transe. Dessa forma, o mundo desconhecido e terrificante da morte adquire forma e é organizado segundo padrões especiais. Finalmente ele se estrutura e, com o passar do tempo, torna-se familiar e aceitável. Por sua vez, os habitantes sobrenaturais do mundo da morte tornam-se visíveis, mostram uma forma, uma personalidade, mesmo uma biografia. Aos poucos, o mundo dos mortos torna-se cognoscível. Em suma, os relatos das viagens extáticas dos xamãs contribuem para a “espiritualização” do mundo dos mortos, ao mesmo tempo que o enriquecem com formas e configurações fabulosas.
Há também uma semelhança impressionante entre as narrações de êxtase xamânicos e alguns temas épicos das literaturas orais da Sibéria, Ásia Central, Polinésia e algumas tribos norte-americanas. Da mesma forma que o xamã desce aos infernos em busca da alma de um doente, também o herói épico vai ao mundo dos mortos e, após vencer várias provas, consegue resgatar a alma da pessoa morta, como na conhecida lenda da luta de Orfeu para trazer de volta a alma de Eurídice.
Além do mais, um grande número de motivos dramáticos míticos e folclóricos envolve viagens às regiões fabulosas de além-mar ou aos confins do mundo. Obviamente, essas terras míticas representam o reino dos mortos. É impossível traçar a origem ou “história” dessas geografias funerárias, mas elas relacionam-se direta ou indiretamente com as diversas concepções do outro mundo, as mais conhecidas das quais são a subterrânea, a celestial e as terras de além-mar. [Eliade]