índios das planícies

Os índios das Planícies formam um conglomerado de culturas que surge só no século XVIII com as migrações de vários grupos de índios, vindos do México e a cavalo, à procura de caça. Neste meio cultural, a vida religiosa de povos muito diferentes adquire inúmeros traços comuns, como a cerimônia da Dança do Sol e a existência de confrarias guerreiras. Esta região torna-se com efeito o teatro de intermináveis lutas. A procura das visões por parte dos guerreiros permite aos colonizadores encontrar no álcool barato um instrumento eficaz para controlar os indígenas. A importação de plantas alucinogêneas, como o peyotl, por volta de 1850, suscitou a organização de cultos e confrarias cujos membros partilhavam determinados rituais secretos e certas visões.

Durante o ritual do sauna (sweat lodge), um grupo de machos suporta o sofrimento de um calor intenso, chicoteiam-se com ramos, dançam e cantam. O sauna purifica o guerreiro ou o visionário.

O xamã e o curandeiro ou curandeira assumem, nas Planícies, a função importante (e remunerada) de mestre de cerimônias. Eles formam uma casta que, como os nossos médicos, utiliza uma linguagem especial. É um ancião (kurahus) que conduz, entre os Paúnis, a cerimônia propiciatória hako, durante a qual os laços simbólicos entre gerações se tornam mais intensos. É um curandeiro (uma mulher, no caso dos pés-negros) que conduz a Dança do Sol (Sun Dance), originalmente pertencente à confraria medicinal dos mandanes mas que se torna na mais importante das cerimônias em todas as tribos índias da região. Durante a Sun Dance, os machos prolongavam um sofrimento físico atroz a fim de ficarem mais próximos do Grande Espírito. Interdita por volta de 1880, a Dança reaparece em 1934 e, depois de 1959, os ojibuás e os lacotas reintroduziram mortificações severas.

Foi ainda entre os índios das Planícies que apareceu, por volta de 1870, o culto milenarista chamado Ghost Dance (Dança dos Espíritos), encorajado pelos mórmones de Utah, que crêem ainda que os índios são as dez tribos perdidas de Israel. O profeta Wovoka disse que os índios deviam parar de lutar, purificar-se e praticar a adoração pela dança do Grande Espírito, dado que a opressão dos colonizadores europeus cessaria tão depressa quanto tinha surgido, engolida por um tremor de terra que não pouparia senão os indígenas. A supressão da Ghost Dance não foi eficaz. Em 1890, o governo enviou tropas que massacraram 260 sioux inocentes que se dirigiam a Wounded Knee Creek, no Dacota do Sul, para praticar as suas cerimônias.

O culto do cato mexicano (Lophophora williamsii) alucinogêneo, chamado peyotl («membrana») em língua asteca expandiu-se entre os índios das Planícies sensivelmente na mesma época em que a Ghost Dance fez a sua aparição. O culto não foi ilegal até 1964, altura em que o tribunal de segunda instância da Califórnia declarou que a sua interdição não representava uma restrição anticonstitucional da liberdade religiosa, dado que este culto não era estruturado como uma religião. O primeiro livro do romancista Carlos Castañeda (A Erva-do-Diabo e a Pequena Fumaça), que apareceu em 1968 como uma obra de etnologia, pretendia provavelmente apresentar o culto do peyotl como uma verdadeira religião. (Eliade e Couliano)

Tradição indígena