O fato de o urso ter sido muitas vezes tomado simbolicamente sob seu aspecto feminino, como vimos a propósito de Atalanta, e como se pode ainda ver pelas denominações das constelações Ursa Maior e Ursa Menor, é tão significativo quanto ter sido atribuído à casta guerreira, detentora do poder temporal, e isso por diversas razões. Em primeiro lugar, essa casta tem normalmente um papel “receptivo”, ou seja, feminino, em relação à casta sacerdotal, pois é desta que ela recebe, não só o ensinamento da doutrina tradicional, mas também a legitimação de seu próprio poder, na qual consiste estritamente o “direito divino”. A seguir, quando a casta guerreira, invertendo as relações normais de subordinação, aspira à supremacia, sua predominância é geralmente acompanhada pela intensificação de elementos femininos no simbolismo da forma tradicional, modificada por essa casta. Chega mesmo a ocorrer, em consequência dessa modificação, a instituição de uma forma feminina de sacerdócio, como foi o caso das druidesas entre os celtas. Deixamos apenas indicado este último aspecto, pois se fôssemos desenvolvê-lo iríamos longe demais, sobretudo se quiséssemos investigar exemplos concordantes em outros lugares. Mas essas indicações ao menos bastarão para que se compreenda o motivo pelo qual a ursa, e não o urso, opõe-se simbolicamente ao javali. [Guénon]

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