Yeats – O poeta fez a sua casa na boca da Serpente?

tradução

Há um velho ditado que diz que Deus é um círculo cujo centro está em toda parte. Se isso é verdade, o santo vai para o centro, o poeta e o artista para o anel onde tudo volta a girar. O poeta não deve procurar o que está parado e fixo, pois isso não tem vida para ele; e se o fizesse, o seu estilo tornar-se-ia frio e monótono, e o seu sentido de beleza ténue e doentio, como o são, para a minha imaginação, tanto o estilo como a beleza na prosa e na poesia de Newman, mas deve contentar-se em encontrar o seu prazer em tudo o que é para sempre passageiro para que possa voltar, na beleza da mulher, nas frágeis flores da primavera, na paixão heróica momentânea, em tudo o que é mais fugaz, mais apaixonado, por assim dizer, pela sua própria perfeição, mais ansioso por regressar na sua glória. No entanto, talvez ele tenha de suportar um pouco o impermanente, pois estas coisas regressam, mas não totalmente, pois não há dois rostos iguais e, talvez, se tivéssemos olhos mais instruídos, não há duas flores. Será que todas as coisas são feitas pela luta entre o indivíduo e o mundo, entre o imutável e o que regressa, e que o santo e o poeta estão acima de tudo, e que o poeta fez a sua casa na boca da Serpente?

original

There is an old saying that God is a circle whose centre is everywhere. If that is true, the saint goes to the centre, the poet and artist to the ring where everything comes round again. The poet must not seek for what is still and fixed, for that has no life for him; and if he did, his style would become cold and monotonous, and his sense of beauty faint and sickly, as are both style and beauty to my imagination in the prose and poetry of Newman, but be content to find his pleasure in all that is for ever passing away that it may come again, in the beauty of woman, in the fragile flowers of spring, in momentary heroic passion, in whatever is most fleeting, most impassioned, as it were, for its own perfection, most eager to return in its glory. Yet perhaps he must endure the impermanent a little, for these things return, but not wholly, for no two faces are alike, and, it may be, had we more learned eyes, no two flowers. Is it that all things are made by the struggle of the individual and the world, of the unchanging and the returning, and that the saint and the poet are over all, and that the poet has made his home in the Serpent’s mouth?

Acervo Gutenberg

William Butler Yeats (1865-1939)