Suzuki (MCB) – Eckhart

Daisetz Suzuki — MÍSTICA: CRISTÃ E BUDISTA

MEISTER ECKHART E O BUDISMO
Há duas traduções para o inglês de Eckhart, uma britânica e a outra norte-americana. A britânica, em dois volumes, é de C. de B. Evans, publicada por John M. Watkins, de Londres, em 1924. A tradução americana é de Raymond B. Blakney, publicada por Harper & Brothers, de Nova York, em 1941. Nenhuma delas é uma tradução completa de todas as obras conhecidas de Eckhart em alemão. Franz Pfeiffer publicou, em 1857, uma coleção das obras de Eckhart, em sua maioria no dialeto alto alemão de Estrasburgo, do Século XIV. Essa edição foi reimpressa em 1914. As traduções de Blakney e Evans baseiam-se primordialmente na edição de Pfeiffer. Neste livro, “Blakney” refere-se à tradução de Blakney e “Evans” do primeiro volume da tradução — de Evans, ao passo que “Pfeiffer” se refere à edição alemã de 1914.

Nas páginas seguintes, procurarei chamar a atenção do leitor para a semelhança entre a maneira de pensar de Meister Eckhart com a do budismo mahayana, especialmente o budismo Zen. Trata-se, apenas, de uma tentativa superficial, de modo algum sistemática e exaustiva. Espero contudo, que, nela o leitor encontre algo que lhe provoque curiosidade bastante para empreender novos estudos desse assunto fascinante.

Quando li, pela primeira vez — o que ocorreu há mais de meio século — um livrinho contendo alguns dos sermões de Meister Eckhart, estes me impressionaram profundamente, pois jamais esperara um pensador cristão, antigo ou moderno, fosse capaz de adotar ideias tão ousadas como as expressas naqueles sermões. Embora não me recorde quais os sermões que constituíam o conteúdo do livrinho, o fato é que as ideias ali expostas se aproximavam estreitamente dos pensamentos budistas, tão estreitamente, em verdade, que quase que se poderia classificá-las, definitivamente, como fruto de especulações budistas. Parece-me, pelo que posso julgar, que Eckhart foi um “cristão” bem singular.

Embora abstendo-nos de entrar em pormenores, podemos dizer pelo menos o seguinte: o cristianismo de Eckhart é sui generis e, em muitos pontos, nos faz hesitar em classificá-lo como pertencente ao tipo que, geralmente, associamos ao modernismo racionalizado ou tradicionalismo conservador. Baseia-se em suas próprias experiências que emergem de uma personalidade de profunda e rica religiosidade. Procura reconciliá-las com o tipo histórico de cristianismo modelado segundo as lendas e a mitologia. Tenta imprimir-lhes uma significação “esotérica” ou profunda e, assim fazendo, penetra em campos ainda não tocados pela maioria de seus predecessores históricos.
*SER
*EXISTENCIALIDADE

Daisetsu Teitaro Suzuki