Brihadaranyaka Upanixade 5

UPANIXADESBRIHADARANYAKA UPANIXADE

Então Gargi Vacaknavi disse:

“Veneráveis Brahmanes, escutai. Eu farei duas perguntas a Yajnavalkya. Se ele as responder, nenhum de vós será capaz de o derrotar no argumento sobre Brahman”.

— “Fazei as perguntas, Gargi”, disse Yajnavalkya.

Ela disse:

— “Yajnavalkya, tal como um jovem herói do clã dos Kasyas, ou Videhas, que tendo afinado o seu arco, pega em duas setas mortíferas na sua mão e avança contra os seus inimigos, assim eu avanço contra ti com as minhas duas perguntas”.

— “Fazei as perguntas, Gargi”, disse ele.

Ela disse:

— “Yajnavalkya, aquilo que está acima do firmamento, aquilo que está debaixo da terra, aquilo.que está entre o firmamento e a terra, — aquilo de que os homens falam como o passado, o presente e o futuro: em que é aquilo tecido, fiado e urdido?”

Ele respondeu:

— “Gargi, aquilo que está acima do firmamento, aquilo que está debaixo da terra, aquilo que se encontra entre o firmamento e a terra, — aquilo de que os homens falam como, o passado, o presente e o futuro: aquilo é tecido fiado e urdido no espaço”

Ela disse:

— “Todas as honras te são devidas, Yajnavalkya, por me teres decifrado essa pergunta. Prepara-te para a outra”.

“Pergunta, Gargi” — disse Yajnavalkya.

Ela disse:

“Yajnavalkya, aquilo que está acima do firmamento, aquilo que está debaixo da terra, aquilo que está entre o firmamento e a terra, — aquilo de que os homens falam como o passado, o presente e o futuro, em que é ‘isso’ tecido, fiado e urdido?”

Ele disse:

“Gargi, aquilo que está acima do firmamento, abaixo da terra, entre o firmamento e a terra, — aquilo do qual os homens falam como o passado o presente e o futuro: aquilo é tecido, fiado e urdido no espaço”.

— Em que é, então, tecido o espaço?

— Ele disse:

“Gargi, aquilo é o que os Brahmanes chamam o ‘Imperecível’!

“Isso não é grosseiro nem fino; nem curto nem longo; nem encarnado como o fogo, nem aderente como a água. Isso não faz sombra, nem é a escuridão. Isso não é o vento, nem é o espaço. Isso não está ligado a coisa alguma. Isso não é o gosto, nem o cheiro; isso não é o olho, nem o ouvido; isso não é a voz, nem o intelecto; isso não é a luz nem é vida; isso não tem rosto, nem medida; isso não tem o “interior” nem o “exterior”. Ele nada devora e nada o devora.

“É por ordenação desse Imperecível, Gargi, que o sol e a lua são mantidos à parte, e assim continuam. É por ordenação desse Imperecível, Gargi, que o firmamento e a terra são mantidos à parte, e assim continuam. É por ordenação desse Imperecível, Gargi, os segundos e os minutos, os dias e as noites, as quinzenas, os meses, as estações do ano, e os anos, são mantidos à parte, e assim continuam. É por ordenação desse Imperecível que, alguns rios, ó Gargi, correm das montanhas nervosas para o Oriente, e outros para o Ocidente, cada qual seguindo o seu curso pre-ordenado. É por ordenação desse Imperecível, ó Gargi, os homens elogiam os generosos, os deuses dependem do ofertante, e os ancestrais dependem dos rituais pelos mortos, oferecidos pelos seus descendentes.

“Toda a oblata que um homem possa oferecer neste mundo, ó Gargi, todo sacrifício que ele possa praticar, todas as penitências que ele possa impor e si próprio, ainda que tudo isso se mantenha por milhares de anos, tudo terá um fim, a não ser que ele conheça esse Imperecível!

“Gargi, é de lamentar todo aquele que abandona este mundo, sem atingir o conhecimento desse Imperecível! Porém, Gargi, aquele que parte deste mundo conhecendo o Imperecível, é, na realidade, um Bráhmana, porque ele conhece Brahman.

“Gargi, esse mesmo Imperecível é o visionário não-visto, o ouvinte não ouvido, o pensador não pensado, o entendedor não entendido. Não existe outro visionário, senão Ele, não existe outro ouvinte, senão Ele, não existe outro pensador, senão Ele, não existe outro entendedor, senão Ele. É nesse Imperecível, ó Gargi, que o espaço é tecido”.

Então, Gargi disse: “Veneráveis Brahmanes, deveis considerar-vos muito afortunados se conseguirdes livrar-vos deste homem apenas prestando-lhe homenagens, porque nenhum de vós será capaz de o derrotar num argumento sobre Brahman”. E ela, Gargi Vacaknavi, manteve-se em paz.

Yajnavalkya falou:

— “Veneráveis Brahmanes, que algum de vós, se assim o desejar, me faça as suas perguntas, ou então todos vós podeis questionar-me; ou ainda, eu interrogarei algum de vós, ou poderei interrogar todos vós juntos”.

Porém, nenhum dos Brahmanes atreveu-se a interrogá-lo.

Então, ele interrogou-os neste poema:

— “Tal como é majestosa a árvore que é suprema na floresta, assim é, na realidade, o Homem. Os seus cabelos são folhas, a sua pele, a casca externa, da sua pele corre o sangue como a seiva da casca da árvore. Quando ferido, a seiva se lhe escorre, tal como na planta golpeada. A sua carne, é como a massa de madeira. Os seus membros rígidos, como a casca interna. Os seus ossos são como a medula do interior do tronco. Tal como duma árvore derrubada, cresce, da raiz, um novo rebento, como, e de que raiz, irá crescer o homem mortal, quando derrubado pela Morte? Não me digais, ‘da semente’, porque ela nasce daquele que está vivo. A árvore que cresce do grão, quando morta, recupera-se outra vez. Arrancai, porém, a árvore pelas raízes, e ela não tornará a erguer-se. Assim, quando a Morte arranca o Homem mortal pelas raízes, de que raiz irá ele crescer? Tendo nascido, ele não torna a nascer. Quem é que o iria gerar outra vez? Brahman é o entendimento, o contentamento, Ele próprio a dádiva, a finalidade do ofertante, a finalidade de quem, pacientemente, espera, conhecendo-o no entanto”.

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