Após uns oito séculos de silêncio dos gnósticos, um livro curto, o Séfer Yetzirah (Livro da Criação) foi amplamente difundido entre os judeus eruditos. Existe pelo menos uma meia dúzia de traduções inglesas disponíveis do Séfer Yetzirah e é provável que este livrinho seja para sempre popular entre os esotéricos. Ele não tem, em si, nenhum valor literário ou espiritual mas é, historicamente, a verdadeira origem da Cabala. Ignora-se por completo a data de sua redação, no entanto, presume-se que ela remonte ao século III. Em discussões cabalísticas posteriores, sua autoria foi atribuída ao grande Rabi Akiba, a quem os romanos martirizaram, fato que contribuiu em muito para o prestígio deste livro. O que realmente importa no Séfer Yetzirah é que ele introduziu, de forma bastante rudimentar, a noção estrutural central da Cabala, as Sefirot, que, em obras ulteriores, passaram a ser as emanações divinas através das quais toda a realidade é estruturada. Uma vez que, até o século XIII, não havia sido escrito o próximo texto cabalístico de importância, o Séfer ha-Bahir, e que aquela obra apresenta um desenvolvimento mais completo, porém não definitivo, das Sefirot, os estudiosos da Cabala necessariamente se confrontam com a problemática que representam mil anos de tradição oral. Dessa forma, todo o medievalismo judaico se converte em um vasto labirinto, onde as ideias características da Cabala eram inventadas, revistas e transmitidas em uma área que abarcava da Babilônia até a Polônia. Nesta vasta extensão espacial e temporal, até mesmo Scholem fica desconcertado, uma vez que a própria essência da tradição oral é que ela deva derrotar todo o saber histórico e crítico. (Harold Bloom, Cabala e Crítica)