Corretamente descrita como “o código secular de honra de uma aristocracia marcialmente orientada”, a cavalaria floresceu em seu contexto europeu ocidental entre meados do século XII e o século XVI. Há muitos elementos diferentes na evolução do que se converteu num complexo conjunto de regras e convenções que se aplicavam primordialmente aos guerreiros aristocráticos, mas que também tiveram um profundo efeito no próprio funcionamento da sociedade medieval.
Inicialmente, o impacto da Igreja foi grande e a noção de comportamento cavaleiresco pode ser apropriadamente atribuída a um abrandamento das épicas virtudes de bravura em combate e de coragem na adversidade, a uma atitude mais gentil, invocando um certo grau de respeito pela vida e a dignidade humanas, até mesmo quando estavam envolvidos inimigos mortais. A benção de estandartes, a inclusão de preces litúrgicas de especial intercessão a favor dos guerreiros que defendiam a Cristandade contra os pagãos, e o crescente interesse pelos santos-guerreiros, São Miguel e São Jorge, antecederam as Cruzadas mas coincidiram com a ascensão do guerreiro montado e armado na Europa Carolíngia e Otoniana.
A evolução da sociedade feudal na Idade Média Central, tanto na Europa ocidental quanto nas Cruzadas, gerou condições especialmente favoráveis ao desenvolvimento dos ideais de cavalaria, com seus elementos gêmeos, mas nem sempre inseparáveis, de Cristianismo e de belicosidade. Associado etimologicamente (chevalier, “cavaleiro”) à elite montada da sociedade feudal, a cavalaria desenvolveu suas instituições, regras e convenções características no decorrer dos séculos XII e XIII, por iniciativa tanto de poetas quanto de legisladores. As cerimônias de armar cavaleiro, de concessão de armas, de adoção de insígnias e brasões como distintivos de nobreza, enfatizaram os atributos seculares da aristocracia militar dominante. A formação de Ordens Militares para as Cruzadas também voltou a introduzir um forte elemento religioso.
O torneio passou a ser uma instituição característica do mundo da cavalaria, reprovado pela Igreja mas florescente durante a segunda metade do século XII e durante todo o século XIII. Os arautos tornaram-se figuras importantes e influentes, em parte por causa do papel que desempenharam na regulamentação dos torneios. Apesar de todos os perigos dos torneios, também chamados justas — e as baixas eram, com frequência, muito pesadas — o mundo feudal secular adotou-os como proveitoso campo de adestramento para jovens guerreiros e como grandes espetáculos nos quais a coragem e o valor militares podiam ser exibidos de forma vibrante e colorida.
Um outro elemento se inseriu fortemente na história cavaleiresca: as mulheres estavam presentes como espectadoras nos torneios, e as ideias de servir à sua dama e de amor cortesão acabaram por entrelaçar-se com a noção do guerreiro ideal. Um poema do século XIII estipulou quatro obrigações para um cavaleiro: repudiar o falso julgamento e a traição, honrar as mulheres, assistir à missa diariamente e jejuar às sextas-feiras. De modo geral, os poetas tratando de temas ligados à história de Roma, à história de Carlos Magno e seus paladinos, ou à de Artur, da Távola Redonda e do Santo Graal, ajudaram a implantar de maneira firme noções de comportamento cavaleiresco na consciência ocidental.
Essas ideias sobreviveram à perda da Terra Santa e, na verdade, viram-se fortalecidas no período final da Idade Média, sobretudo pelo patrocínio de grandes reis e duques, e pela formação de Ordens de cavalaria como a Ordem da Jarreteira, na Inglaterra, e a Ordem do Tosão de Ouro, na Borgonha. Cavaleiros andantes, consubstanciando o espírito de aventura e o fervor religioso, saíam em busca do Santo Graal ou da união com Deus, tornando-se parte significativa da consciência poética do Ocidente. A heráldica e o interesse pela genealogia asseguraram que as tradições de descendência e de boa família continuaram sendo uma forte característica do grupo dominante; mas era prestada atenção crescente à noção de que honra e nobreza de maneiras significavam mais do que nobreza de raça.
A cavalaria civilizou lenta mas seguramente uma sociedade militar que, partindo das rudes e violentas raízes do mundo épico do início do século XI, floresceu através do romance, secular e religioso, dos séculos XII e XIII, para culminar no mundo formal e regulamentado do período medieval final, quando os cavaleiros, pelo menos em teoria, também eram cavalheiros. (DIM)