Religião da Humanidade

A “Religião da Humanidade” não é, na época contemporânea, monopólio exclusivo de Augusto Comte e de alguns de seus discípulos positivistas, aos quais se deve ao menos reconhecer o mérito de ter expressado francamente o que outros envolvem em fórmulas traiçoeiramente equivocadas. Já notamos os desvios que certas pessoas, em nossos tempos, impingem em geral à própria palavra “religião”, aplicando-a em coisas meramente humanas. Tal abuso, com frequência inconsciente, não seria o resultado de uma ação que, em si, é perfeitamente consciente e desejada, ação esta exercida por aqueles que, sejam quais forem, parecem ter assumido a incumbência de deformar de maneira sistemática a mentalidade ocidental desde o início dos tempos modernos? Cada um de nós é tentado a admitir tal possibilidade, sobretudo quando se vê, como vem ocorrendo desde a última guerra, instaurar-se por toda parte uma espécie de culto laico e “cívico”, uma pseudo-religião em que toda ideia do Divino está ausente. Não pretendemos mais insistir sobre isso no momento, mas sabemos que não somos os únicos a julgar que aí está um sintoma inquietante. (Guénon)

René Guénon