Árvore da Vida

Armand Abecassis: BÍBLIA ABERTA

Abécassis — Em seguida o texto nos fala de uma segunda árvore denominada a “Árvore de Vida”. Uma nota se impões à leitura do que é dito a seu respeito em relação à Árvore do Conhecimento do bem e do mal. Com efeito, uma interdição é formulada sobre esta. Não se deve dela comer. O texto adiciona que podemos comer de todas as outras árvores. Ora a Árvore de Vida faz parte destas últimas. Podemos consequentemente comer de seu fruto.

JE — Deve-se com efeito observar que a interdição não recai senão sobre a Árvore do Conhecimento. Enquanto Adão não está mergulhado no mundo da confusão e da mistura, sua vida não é limitada. Poderia viver eternamente. Não sofreria qualquer agressão. Não está em presa de qualquer destruição. É somente quando Adão teria comido da Árvore do Conhecimento que lhe acarretará impossível comer da Árvore de Vida.

Abécassis — E a Árvore de Vida espiritual como da vida de todos os dias, da vida autêntica em cada uma de suas manifestações e de suas expressões enfim, nos é permitida e mesmo aconselhada. Pois a vida à qual aspiramos é aquela da unidade que supera as dualidades e as contradições, uma vida na qual estaríamos instalados em uma espécie de acima do bem e do mal, do verdadeiro e do falso, uma vida acima e fora disto que chamamos a história. As duas árvores representam, para nossos místicos, estas duas vias, estas duas formas de vida.


Julius Evola: TRADIÇÃO HERMÉTICA

No Irão voltamos a encontrar a tradição de uma árvore dupla, uma das quais contém, segundo o Bundahesh, todas as sementes, enquanto a outra é capaz de proporcionar a bebida da imortalidade (haoma) e a ciência espiritual; o que nos leva a pensar imediatamente nas duas árvores bíblicas do Paraíso, uma da Vida e outra, precisamente, da Ciência. A primeira converte-se depois em Mateus (XIII, 31-32) na figura do reino dos céus, que surge da semente lançada pelo homem no seu simbólico «campo»; encontramo-la mais tarde no Apocalipse de João (XXII, 2) e sobretudo na Cabala, como «a grande e potente Árvore da Vida», donde nos «chega a Vida desde o alto» e com a qual se relaciona uma «orvalhada» em virtude da qual se produz a ressurreição dos «mortos»: equivalência evidente com a força da imortalidade do amria védico e do haoma iraniano.


 

A partir de certas comparações que podem ser estabelecidas entre o simbolismo bíblico e apocalíptico e o simbolismo hindu, resulta de forma muito clara que a essência da “Árvore da Vida” é, na verdade, o “indivisível”. (Guénon)


Se nos reportarmos ao simbolismo bíblico do Paraíso Terrestre, a única diferença notável que se constata entre a Árvore da Vida e o Haoma, é a imortalidade ser dada, não por um licor tirado da “Árvore da Vida”, mas pelo seu próprio fruto. Trata-se nesse caso, portanto, de um “alimento de imortalidade”, ao invés de uma bebida. Mas, de qualquer forma, é sempre um produto da árvore ou da planta, e um produto no qual se encontra concentrada a seiva que, de certo modo, é a própria “essência” do vegetal. É também notável por outro lado que, de todo simbolismo vegetal do Paraíso Terrestre, a “Árvore da Vida” seja a única que subsista com esse caráter na descrição da Jerusalém Celeste, onde todo simbolismo restante é mineral. (v. Árvore do Apocalipse) (Guénon)


No símbolo da ÁRVORE DE VIDA (árvore sefirótica), que representa o conjunto dos atributos divinos, as duas “colunas” laterais são respectivamente a Misericórdia e a Justiça; no topo da “coluna do meio”, que domina as duas “colunas” laterais, está a “Coroa” (keter); a posição análoga da coroa de Jano em nossa figura em “Jano e Cristo”, em relação à chave e ao cetro, parece-nos propiciar um paralelo que justifica que seria o poder principal, único e total, simbolizado pela coroa e acima ainda pelo monograma IHS; poder principal, do qual procedem os dois aspectos designados pelos dois outros emblemas na figura. (Guénon)