Não-Dualidade — RUPERT SPIRA
Artista plástico inglês que vem se notabilizando por apresentar um caminho não-dualista, dentro da tradição advaita vedanta, após uma passagem reveladora por Francis Lucille. Suas alegorias refletem uma firme compreensão experiencial da não-dualidade.
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Excerto do prefácio de seu livro The Transparency of Things, 2008, Non-Duality Press.
Se nossa atenção fosse agora atraída para a tela na qual estas palavras estão escritas, experimentaríamos a estranha sensação de subitamente se tornar consciente de algo que simultaneamente nos damos conta que é tão óbvio a ponto de não requerer nenhuma menção. E, no entanto, quando a tela é indicada, parecemos experienciar algo novo.
Temos a experiência estranhamente familiar de se tornar consciente de algo que de fato já estávamos consciente. Tornamo-nos consciente de estar consciente da tela.
A tela não é uma nova experiência que é criada por esta indicação. Entretanto, nossa consciência da tela parece ser uma nova experiência.
Agora, e sobre a consciência ela mesma, que está consciente da tela? Não está sempre presente por trás ou por dentro de cada experiência, assim como a tela está presente por trás e por dentro das palavras nesta tela?
E quando nossa atenção é atraída para ela, não temos o mesmo sentimento estranho de ter sido feito consciente de algo que estamos de fato sempre conscientes, mas não notamos?
Não é esta consciência o fato mais íntimo e óbvio de nossa experiência, essencial para e no entanto independente das qualidades particulares de cada experiência ela mesma, da mesma maneira que a tela é o fato mais óbvio desta tela, essencial para e no entanto independente de cada palavra?
Não é esta consciência ela mesma o suporte e a substância de cada experiência da mesma maneira que a tela é o suporte e a substância de cada palavra?
Alguma coisa nova necessita ser adicionada a esta tela para que se veja a tela? Alguma coisa nova necessita se adicionada a esta experiência corrente a fim de se tornar consciente da consciência que é seu suporte e substância?
Quando retornamos às palavras, tendo notado a tela, perdemos de vista a tela? Não vemos os dois, os aparentes dois, simultaneamente como um? E não sempre já experimentamos elas como um, sem nos darmos conta?
Da mesma forma, tendo notado a consciência por trás e por dentro da cada experiência, perdemos de vista essa consciência quando retornamos o foco de nossa atenção ao aspecto objetivo da experiência? Não vemos agora os dois, os aparentes dois, consciência e seu objeto, simultaneamente como um? E assim não sempre foi?
As palavras elas mesma afetam a tela? Importa à tela o que é dito nas palavras? O conteúdo de cada experiência afeta a consciência na qual ela aparece?
Cada palavra nesta tela está é de farto somente feita de tela. Expressa somente a natureza da tela, embora possa descrever a lua.
Cada experiência somente expressa consciência, embora a experiência ela mesma seja infinitamente variada.
Consciência é o aberto inconhecível no qual cada experiência está escrita.
É tão óbvia que não é notada.
É tão próxima que não pode ser conhecida como um objeto e no entanto é sempre conhecida. É tão íntima que cada experiência, por mais diminuta ou vasta, é absolutamente saturada e permeada com sua presença.
É tão amável que todas as coisas possíveis de serem imaginadas estão contidas incondicionalmente dentro dela.
É tão aberta que recebe todas as coisas nela.
É tão espaçosa e ilimitada que todas as coisas estão contidas dentro dela.
É tão presente que cada experiência única está vibrando com sua substância.
É somente este aberto inconhecível, a fonte, a substância e o destino de toda experiência, que aqui é indicado, mais e mais e mais novamente.