Schuon (EPV) – Esoterismo e objetividade pura ou direta

No conhecimento, deve-se estabelecer uma distinção entre o aspecto de analogia e o de identidade, pois aí encontraremos a diferença fundamental entre o pensamento racional e a inspiração intelectual, no sentido próprio e exato deste adjetivo. O aspecto de analogia é o da descontinuidade entre o centro e a periferia: as coisas criadas, inclusive os pensamentos — portanto, tudo aquilo que constitui a manifestação cósmica —, estão separadas do Princípio; as realidades transcendentes apreendidas pelo pensamento estão separadas do sujeito pensante. Isto significa que o conhecimento racional ou mental é como um reflexo separado de sua fonte luminosa, reflexo este, no entanto, exposto a todos os tipos de perturbações subjetivas.

Por outro lado, o aspecto de identidade é o da continuidade entre o centro e a periferia; consequentemente, distingue-se do aspecto de analogia como a estrela se distingue dos círculos concêntricos. A manifestação divina à nossa volta e em nós mesmos prolonga e projeta o Princípio e com este se identifica precisamente sob o aspecto da qualidade divina imanente; o sol é realmente o Princípio percebido através dos véus existenciais; a água é, de fato, a Passividade universal percebida através desses mesmos véus. Quanto ao conhecimento, não basta que essa relação seja simplesmente pensada para conferir ao raciocínio um caráter de divindade, portanto, de verdade e de infalibilidade. É certo que, objetivamente, todo pensamento manifesta — sob o aspecto metafísico de identidade — o Pensador divino, se assim podemos nos expressar. Mas esta situação puramente objetiva e existencial, ontológica, se quisermos, é absolutamente geral e mantém-se fora das diferenças qualitativas, de forma que nada tem a ver com a realização subjetiva e cognitiva do aspecto de identidade. Dissemos que, no conhecimento racional ou mental, as realidades transcendentes apreendidas pelo pensamento estão separadas do sujeito pensante; ou, no conhecimento propriamente intelectual, ou feito pelo coração, as realidades do Princípio, que são apreendidas pelo coração, prolongam-se na intelecção; há unidade entre o conhecimento pelo coração e aquilo que ele conhece, sendo o conhecimento como um raio de luz ininterrupto.

Os kantianos nos pedirão a prova da existência dessa forma de conhecimento; mas há aqui um primeiro erro, ou seja, não passa de um conhecimento que podemos provar de facto. O segundo erro, que aparece em seguida, é o de que uma realidade que não podemos provar — isto é, que não podemos tornar acessível a uma determinada necessidade de causalidade artificial e ignorante que essa realidade, visto que parece carecer de prova, não existe e não pode existir. O racionalismo integral carece tanto de objetividade intelectual quanto de imparcialidade moral. Mas voltemos à nossa distinção entre o conhecimento indireto, racional e mental, e o conhecimento direto, intelectual e pelo coração. Além dessas duas formas há uma terceira: o conhecimento da fé. Mas a fé equivale a um conhecimento objetivado pelo coração; o que o coração microcósmico não nos diz, o coração macrocósmico — o Logos — nos diz em linguagem simbólica e parcial, por dois motivos: para nos informar sobre aquilo de que nossa alma tem urgente necessidade e para despertar em nós, na medida do possível, a lembrança das verdades inatas.

Se existe um conhecimento intrinsecamente direto mas extrínsecamente objetivado quanto à sua comunicação, deve haver nele, correlativamente, um conhecimento indireto em si, contudo subjetivo quanto ao seu processo, e trata-se do discernimento das coisas objetivas a partir dos seus equivalentes subjetivos, visto que a realidade é una. Pois não há nada no macrocosmo que não derive do metacosmo e que não seja reencontrado no microcosmo.

O conhecimento direto e interior, o do Coração-Intelecto, é o que os gregos denominavam gnose; a palavra, “esoterismo” — segundo sua etimologia — designa a gnose, na medida em que está de facto subjacente às doutrinas religiosas, portanto dogmáticas.

Frithjof Schuon