Schuon (EPV) – Dança do Sol

A Dança do Sol — tópicos

A grande Dança sacrificial dos índios nômades da América do Norte, consagrada à Força solar, comportava outrora ritos secundários bem variados, dependendo das tribos. Em certos casos, todos os tipos de elementos mitológicos entravam em sua composição, a ponto de quase passar o papel do sol para um segundo plano. Mas essa complexidade, evidente num mundo fragmentado e movente como o dos peles-vermelhas, não é de natureza que invalide o conteúdo fundamental do ciclo ritual em questão. Além disso, esse conteúdo sobreviveu a todas as tribulações de que os índios das planícies foram vítimas desde o início do século XIX.

A Dança do Sol tem dois significados essenciais: um exterior e outro interior. O primeiro é variado, o segundo é invariável. A intenção relativamente exterior da Dança pode ser um voto pessoal ou a prosperidade da tribo, ou ainda mais profundamente — entre os Cheyennes, por exemplo — o desejo de regenerar toda a criação. A intenção interior e invariável é de unir-se à Força solar, de estabelecer uma ligação entre o Sol e o coração, em suma, de produzir um raio que vincule a terra ao Céu, ou de reatualizar esse raio preexistente mas perdido.1 Essa operação propriamente “pontifical” (pontifex) baseia-se na equação “coração-Sol”: o Sol é o Coração do Macrocosmo, o coração humano é o sol do microcosmo que somos nós. O Sol visível é apenas um vestígio do Sol divino mas, sendo real, esse vestígio é eficaz e possibilita a operação teúrgica graças a um jogo de analogias e de complementaridades.

 


  1. Este paralelismo entre uma intenção terrestre coletiva e uma intenção celeste pessoal manifesta um aspecto particular de complementaridade entre o exoterismo e o esoterismo.  

Frithjof Schuon