É um erro natural confundir o jnani com o racionalista, embora o racionalismo seja de fato um desvio da perspectiva intelectiva. Pois o jnani, ou seja, o intelectivo por natureza, não deseja nem pretende a priori conhecer o fundo das coisas; ele constata que vê o que vê, isto é, que conhece o que o seu discernimento “naturalmente sobrenatural” lhe revela, quer queira quer não. E, assim, ele se encontra na situação de um homem que seria o único a ver o nosso sistema solar a partir de um ponto no espaço e que, em virtude disso, conheceria as causas das estações, dos dias e das noites, do movimento aparente dos astros, a começar pelo sol. A religião geral, dogmática e formalista é solidária — analogicamente falando — com o que se apresenta a tal subjetividade humana. Ao contrário, o esoterismo, aceitando este sistema de aparência a título de simbolismo e no plano de uma bhakti concomitante, tem consciência da relatividade daquilo que poderíamos paradoxalmente denominar “fenômenos metafísicos”. O racionalista que se prevalece de uma intelecção cujo princípio certamente concebe — mas que lhe falta — e que confunde a razão com o Intelecto, realiza um desvio comparável ao falso inspiracionismo das seitas heréticas. Mas como “a corrupção do melhor é o pior”, o racionalismo é muito mais nefasto do que o falso misticismo, que pelo menos não deseja negar Deus e a vida futura. Convém lembrar aqui o que dissemos em outras ocasiões, isto é, que há duas fontes de convicção, uma exterior e a outra interior, ou seja, a Revelação e a Intelecção, o sentimentalismo usurpando facilmente a primeira e o racionalismo, a segunda. De fato, a Intelecção deve combinar-se com a Revelação, assim como a Revelação deve iluminar-se pela Intelecção.
Não obstante, é errado dizer, como o querem os fideístas por propósitos sensualistas, que a razão recebe os seus conteúdos apenas de duas fontes, isto é, do exterior e do alto; a assimetria do esquema já é o índice da sua insuficiência. Na verdade, a razão pode receber os seus conteúdos do exterior e do interior, de baixo e do alto: do exterior, ela os obtém pelos sentidos ou pela Revelação; do interior, pela alma ou pela Intelecção. Isto significa que o alto e o baixo, ou o sobrenatural e o natural, intervêm no interior e no exterior. Aliás, esses diversos fatores podem combinar-se em virtude da transparência metafísica das coisas e de acordo com o princípio platônico da “relembrança”.