A deidade enquanto senário-septenário (Abellio)

(Abellio1965)

O Indeterminado ou deidade, enquanto Ser absoluto, envelopa o senário-septenário primordial. Este é formado pela cruz equatorial do Pai e da Mãe, que, por sua rotação eterna, projeta o Filho sobre o eixo vertical bipolar de sua encarnação e de sua assunção igualmente eternas, que constituem juntas a elevação da cruz.

O problema do Indeterminado, chamado Supremo Brahman pelos hindus, Tem [«aquele que não existe em forma»] pelos egípcios, Ain-Soph pelos judeus, deidade de Deus por Mestre Eckhart e Ungrund por Jacob Boehme, se confunde com aquele da infinidade dos possíveis, e a suprema contingência aí aparece como resolutória de uma determinação absoluta. No entanto, o Indeterminado não coloca somente enquanto enigma conceitual ou ontológica, mas enquanto realidade vivida a cada instante no presente de cada existência e ato perpetuamente voluntário, intuição dramática e permanente de um limite onde toda separação se extingue e sobre a qual, no momento em que a necessidade de definição se exaspera, toda definição se torna inútil. No homem, o Indeterminado se oferece a uma adesão sem provas e sem sacerdotes, ele é a presença em ato da contemplação onde aquele que contempla e aquele que é contemplado não fazem senão um. Toda contemplação resulta de uma dupla démarche e resolve uma contradição que procede da essência mesma da Indeterminação: ela é ao mesmo tempo aceitação da distância e abolição da distância, quer dizer ato único de transfiguração desta distância mesma. Ela opera a transferência simultânea e recíproca de uma negatividade e de uma positividade, mas esta transferência em si mesma é plenamente positiva.

 

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