Alain Porte: Como nomear o Ser?

Como nomear o Ser? E como pode ser pensado?

A primeira pergunta implicaria que o Ser tem uma forma — não existe um nome sem uma forma à qual se possa dar um nome, assim como não existe uma forma concebível que escaparia a uma identidade vocal.

O Ser teria de ser algo correlacionado com nossas faculdades sensoriais. O ser não pode ser um objeto dos sentidos! O Ser não é uma coisa finita, e o termo “infinito”, que atribuiríamos a ele de bom grado, só subiria verticalmente, em uma curva assintótica, sem jamais cruzar o infinito imaterial, uma propriedade inerente ao Ser. “Infinito” seria apenas mais um qualificador, um ornamento supérfluo na morada do silêncio.

Mas não faz parte da natureza da língua sânscrita chorar sobre a impotência da fala. É difícil distinguir nos textos entre a elaboração de um dogma projetado para ocultar deficiências racionais e o derramamento místico que transcende as contingências. Se tivéssemos que arriscar a cor da sensibilidade predominante, talvez tivéssemos que evocar uma serenidade feita de alerta absoluto.

O Uno (ekam), o Homem Primordial (purusha), a Testemunha (adhyaksha) — esses são os aspectos familiares que incorporam na linguagem o que chamamos de Ser, ou Consciência universal, ou Realidade suprema, todas as formas de domar, a fim de colocá-lo ao alcance do pensamento, o tecido espiritual imaterial cuja permanência intangível sustenta nossa existência, nossa presença no mundo das formas, desde o crepúsculo do nascimento até a aurora da morte.

Les infinis préparatifs de l’éternité, Alain Porte

 

Alain Porte