Alain Porte: Como pensar Ser ?

A verdade do Ser (sat) é de se repousar nele mesmo, a verdade da Consciência (cit) é de se banhar nela, sem jamais ser “consciente” dela mesma.

Não se trata aí nem de uma opinião, nem de uma crença, nem de uma , nem de um pressuposto filosófico, nem também de um oráculo místico. É mais como semente imemorial irrigada pela visão e vivificada pelo diálogo, tal aquele que reuniu o rei Janaka e o jovem sábio Ashtâvakra. Ou talvez é preciso discernir aí um desses « fundamentos » (dharma), que são os atos fundadores do mundo, « provas » da indefectível aliança entre o Ser e a Existência.

Então, que o corpo em sua totalidade se impregne disso! O corpo onde residem, em indissociáveis vizinhos, e corpo e pensamento (manas), o cadinho de todos pensamentos e de todas emoções, o valor dos derivados semânticos se encarregando de atestá-lo: o orgulho, é Mâna; o furor se diz Manyus; o desejo traduzir-se-á por Manoratha: « Aquele que tem por carro o pensamento ».

Entre o ser-que-pensa, o homem (Manushya) e sua verdadeira natureza, seu ser verdadeiro, que é Consciência (Buda), a distância é ínfima, infinitesimal e, para tudo dizer, inexistente, salvo se não se vê que as etapas concretas da caça espiritual nesse mundo não são senão metáforas da « realidade », salvo se se percebe a passagem pelos diversos estados de sua própria vida e a prática assídua de uma técnica de despertar como a chave decisiva que dá acesso à Consciência.

Mas a Consciência está além de todo devir, ela não conhece Destino.

Les infinis préparatifs de l’éternité, Alain Porte (tr. Antonio Carneiro)

Alain Porte