A verdade do Ser (sat) é de se repousar nele mesmo, a verdade da Consciência (cit) é de se banhar nela, sem jamais ser “consciente” dela mesma.
Não se trata aí nem de uma opinião, nem de uma crença, nem de uma fé, nem de um pressuposto filosófico, nem também de um oráculo místico. É mais como semente imemorial irrigada pela visão e vivificada pelo diálogo, tal aquele que reuniu o rei Janaka e o jovem sábio Ashtâvakra. Ou talvez é preciso discernir aí um desses « fundamentos » (dharma), que são os atos fundadores do mundo, « provas » da indefectível aliança entre o Ser e a Existência.
Então, que o corpo em sua totalidade se impregne disso! O corpo onde residem, em indissociáveis vizinhos, e corpo e pensamento (manas), o cadinho de todos pensamentos e de todas emoções, o valor dos derivados semânticos se encarregando de atestá-lo: o orgulho, é Mâna; o furor se diz Manyus; o desejo traduzir-se-á por Manoratha: « Aquele que tem por carro o pensamento ».
Entre o ser-que-pensa, o homem (Manushya) e sua verdadeira natureza, seu ser verdadeiro, que é Consciência (Buda), a distância é ínfima, infinitesimal e, para tudo dizer, inexistente, salvo se não se vê que as etapas concretas da caça espiritual nesse mundo não são senão metáforas da « realidade », salvo se se percebe a passagem pelos diversos estados de sua própria vida e a prática assídua de uma técnica de despertar como a chave decisiva que dá acesso à Consciência.
Mas a Consciência está além de todo devir, ela não conhece Destino.
Les infinis préparatifs de l’éternité, Alain Porte (tr. Antonio Carneiro)