Apolo

Filosofia

Peter Kingsley

Excertos de In the Dark Places of Wisdom

As tradições ligando Apolo com incubação e cavernas e lugares escuros, nada tem com o Apolo que costumamos conhecer.

Hoje em dia Apolo é considerado a encarnação da razão e da racionalidade — como se um deus pudesse jamais se razoável no sentido que atribuímos a esta palavra. A história de como esta noção veio a ser substituída por uma percepção das coisas que ele costumava ser é absurda, da maneira que tais histórias usualmente são. Vai lá no fundo do passado histórico, e a estória ainda não terminou. Tentativas foram feitas de racionalizar Asclépio mas nunca duraram muito. A racionalização de Apolo ainda perdura.

Normalmente ele é descrito como o mais grego de todos os deuses: uma imagem perfeita do antigo espírito grego, todo claridade e brilho.

Mas ele não é claro em absoluto. Acima de tudo era uma deus de oráculos e profecias — e os oráculos que dava eram enigmas, cheios de ambiguidades e armadilhas. Era o povo que acreditava que tudo era brilhante e claro que acabou em apuros.

Frequentemente ele é associado com música e canções. E no entanto especialmente na Anatólia tinha um lado totalmente diferente. Lá as canções eram cantadas em sua honra eram cheias de estranhas palavras, cantadas em uma linguagem encantatória que ninguém podia entender. E seus oráculos era ditos por seu profeta em uma voz pesada em transe: oráculos cheios de repetições e enigmas, expressos em uma poesia que dificilmente parecia poesia. Pois Apolo era um deus que operava em outro nível de consciência com regras e uma lógica próprias.

Às vezes se diz que quando magos, séculos depois de Cristo, invocavam Apolo através de incubações no meio da noite, isto era uma prova de como seu brilho já tina esmorecido — juntamente com o famoso brilho do mundo clássico.

Mas o fato é que ele era sempre associado com escuridão e noite. Em Roma, onde colonos gregos introduziram a adoração de Apolo o curandeiro, o melhor tempo para incubação em seu templo era no meio da noite. E de volta para Anatólia haviam antigas tradições em seu templo que implicavam em aprisionar a sacerdotisa de Apolo com seu deus à noite. Quando ela saía na manhã seguinte era capaz de profetizar por causa de sua união mística com Apolo durante a noite.

E desde o início Apolo era conectado não somente com a noite mas com as cavernas e lugares escuros, com o submundo e a morte. Eis porque, a cidade de Hierapolis, na Anatólia, o templo de Apolo era sobre uma caverna que levava ao submundo. E eis porque em outros centros de oráculos na Anatólia seus templos eram construídos da mesma maneira — sobre cavernas dando acesso ao submundo que eram adentradas por sua sacerdotisa e pelos iniciados alta noite.

Quando começaram a fazer de Apolo razoável, filosoficamente aceitável, estavam simplesmente olhando a superfície e evitando o que subjaz a este deus.


Foi também na Anatólia que Apolo veio a ser associado ao Sol.

Realmente sua ligação com o Sol vai longe no passado. Mas proposições formais dos gregos identificando o Sol com Apolo só começaram a aparecer no tempo que Parmênides estava vivo. E o que é importante sobre estas proposições é a maneira que indicam que a identificação era esotérica — questão para iniciados somente, para pessoas familiares com “os nomes silenciosos dos deuses”.

Agora é tão fácil assumir que Apolo e o Sol são ambos questão de brilho e luz. Mas, isto é esquecer que onde o Sol está mais em casa: na escuridão do submundo. E é também não alcançar o que estas proposições sobre o Sol e Apolo realmente afirmam.

Uma dessas proposições é uma das mais antigas menções na antiga literatura da descida de Orfeu ao submundo. Explica como Orfeu veio a ser tão devoto de Apolo. A tradição fez dele um sacerdote e um profeta de Apolo, por vezes até fez dele seu filho. Mas este relato afirma que isto foi somente quando Orfeu desceu ao mundo dos mortos e “porque viu as coisas a serem lá vistas justamente como são” que compreendeu porque o Sol é o maior dos deuses — e é idêntico a Apolo. O relato continua dizendo como Orfeu acordava à noite subia uma montanha de modo a vislumbrar seu deus na aurora.

Há também uma poema órfico famoso. Foi escrito por um pitagórico do sul da Itália, mas poucos traços dele sobreviveram. Apresentava Orfeu fazendo sua jornada para o submundo no sítio de uma oráculo de sonho, junto a uma cratera vulcânica. Em outras palavras fez sua descida em outro estado de consciência, em uma espécie de sonho, usando a técnica de incubação.

O poema o descreve como fazendo uma grande descoberta que trouxe de volta ao mundo dos vivos. Esta era o fato de que Apolo compartilhava seus poderes oraculares com a Noite.

Sabemos pouco do poema e mais da resposta que evocou nas autoridades religiosas séculos mais tarde. Orfeu foi ridicularizado por sua sabedoria imaginária, atacado por espalhar “falsas noções” através do mundo. E houve um famoso escritor chamado Plutarco — bom homem, bom platonista, com boas fontes de informação sobre as ideias em geral aceitas em Delfos em seu tempo — que estabeleceu a posição oficial claramente em registro. “Apolo e Noite nada têm em comum”.

A para maioria das pessoas nada tinham mais em comum. A experiência de outro mundo através da incubação tem pouco valor quando se põe confiança nos aparentes poderes da razão.

A afirmação mais mítica de todas sobre as conexões de Apolo com o submundo é também a mais simples. E não é coincidência que isto, também, pertença às tradições que cercam a figura de Orfeu — o mesmo Orfeu que usou as encantações mágicas de Apolo para abrir seu caminho para a rainha dos mortos.

De acordo com um poema órfico Apolo e Perséfone foram para cama e fizeram amor. A tradição tem todo sentido de todas as formas possíveis. Pois algo que dificilmente é notado é como os poderes de cura de Apolo e de seu filho Asclépio levou-os a uma relação íntima com a morte. Curar é saber os limites da cura e também do que jaz além. Finalmente não há cura real sem a habilidade de enfrentar a morte ela mesma.

Apolo é um deus da cura mas também é mortal. A rainha da morte é a encarnação da morte; e no entanto é dito que o toque de sua mão é curador. Como opostos trocam papeis um com o outro.

Isto explica porque em Caria, qualquer um deles podia igualmente serem os deuses em centros de incubação onde pessoas vinham deitar-se na quietude máxima como animais em um covil. A quietude é a quietude da morte, mas é assim que a cura vem.

E explica também porque um estranho padrão fica se repetindo na descrição de figuras de heróis que estão associados com Apolo. Sacerdotes e servos de Apolo eles mesmos, eles também têm ligações próximas com o culto e adoração de Perséfone.

Peter Kingsley