COSMOLOGIA MASDEÍSTA — ZOROASTRO — ARCANJOS
VIDE: ANJOS DO MASDEÍSMO
Um dos hinos litúrgicos da Avesta descreve em termos prestigiosos seu esplendor e o mistério de suas relações. O hino celebra estes Arcanjos «que todos os Sete têm mesmo pensamento, todos os Sete mesma palavra, todos os Sete mesma ação… que veem a alma um do outro ocupada a meditar pensamentos de retidão, a meditar palavras de retidão, a meditar ações de retidão, a meditar a Morada-dos-Hinos, e que têm caminhos de luz para atender às liturgias (celebradas em honra deles)… que criaram e governam as criaturas de Ahura Mazda, que as formaram e as dirigem, que delas são os protetores e os libertadores».
Logo há entre os Sete Arcanjos uma espécie de unio mystica, pela qual a Heptade divina se diferencia tanto das representações correntes do monoteísmo quanto daquelas do politeísmo; seria melhor falar de um katheoteísmo, neste sentido que cada uma das Figuras da Heptade divina pode ser meditada por sua vez como realizando a totalidade das relações comuns às outras. Pode-se seguir nos textos como uma oscilação que ora destaca a primazia do Senhor Sabedoria entre os Sete, ora acentua a unio mystica com os seis outros Poderes de Luz. É assim que a frequência com a qual, nos textos pahlavis, Ohrmazd iniciando Zaratustra seu profeta, se exprime dizendo: «Nós, os Arcanjos» — corresponde ao emprego, na Avesta mesma, da palavra Mazda no plural, «os Senhores Sabedorias», para designar o conjunto dos Amahraspands. Pode-se evocar comparativamente como em Fílon o Logos — senão Deus ele mesmo — é denominado pelo nome de arcanjo, porque ele é Archon Angelon.
Tradicionalmente, na iconografia mental como também sem dúvida na iconografia real, a Heptade divina figura como dividida em dois grupos: três Arcanjos representados como masculinos à direita de Ohrmazd, três Arcanjos femininos à sua esquerda. Ohrmazd ele mesmo reúne sua dupla natureza, posto que é dito dele que foi ao mesmo tempo o pai e a mãe da Criação. Todos os Sete juntos produziram as criaturas por um ato litúrgico, quer dizer em celebrando a Liturgia celeste, cada uma dos Sete Poderes da Luz produzindo em virtude da Energia que transborda de seu ser, a fração dos seres que no conjunto da Criação representa sua hierurgia pessoal, e que por esta razão pode ser designada por seu próprio nome.
Ohrmazd tomou como sua hierurgia própria, objeto de sua atividade criadora e providente, o ser humano ou mais exatamente esta porção da humanidade que escolheu de responder sobre a terra para os seres de Luz. Dos três Arcanjos masculinos: Vohu Manah (Pensamento excelente, palavi Vohuman, persa Bahman) se reservou à proteção de toda a criação animal; Arta Vahishta (Perfeita Existência, Artvahisht, Ordibehesht), o Fogo sob suas diferentes manifestações; Xshathra Vairya (Reino desejável, Shathrivar, Shahrivar), os metais. Dos três Arcanjos femininos: Spenta Armaiti (Spandarmat, Esfandarmoz) tem por hierurgia própria a Terra como forma de existência tendo por Imagem a Sabedoria e a mulher sob seus aspecto de ser de luz. A Haurvatat (Integridade, Khordad) pertencem as Águas, o mundo aquático em geral; a Amertat (Imortalidade, Amordad), as plantas, todo o universo vegetal. São estas relações hierúrgicas que precisamente indicam ao ser humano onde e como encontrar os Poderes de Luz invisíveis, a saber em cooperando com eles para a salvação da região criatural que procede de sua providência própria.