Luc Benoist: BASES DA ASTROLOGIA INDIVIDUAL

Entre os astros e o mundo pode existir diversas espécies de relações: simbolismo, analogia, correspondências ou influências. Geralmente os astrólogos modernos optam pela solução mais material, quer dizer reduzem estas relações à única influência, da qual comparam os efeitos ao magnetismo e à eletricidade. Eis aí uma pura hipótese, que não discutiremos se bem ou mal fundada. Diremos somente que as relações que existem entre os astros e o ser humano são de diferentes espécies segundo a parte do ser considerada.

Entre os corpos celestes e o corpo do homem há não somente uma relação de equivalência material, mas também, e consequentemente, uma influência real. Tomás de Aquino, que não é suscetível de ser acusado de juízos temerários, afirma em sua célebre «Suma» que «Os astros, movidos por espíritos angélicos, são a causa de tudo o que se passa nos corpos inferiores, pela variedade de seus movimentos e estas influências são diversamente recebidas nos corpos segundo as diversas disposições da matéria». Lê-se na mesma obra esta passagem ainda mais explícita: «Tudo o que neste mundo inferior engendra e transmite a espécie é o instrumento dos corpos celestes».

Mas tudo muda quando se trata da alma. Na medida que esta obedece às paixões do corpo, os astros a inclinam e algumas a comandam. Segundo Tomás de Aquino: «O apetite sensitivo sendo o ato do órgão corporal, nada se opõe a que a ação dos astros disponha certos homens à cólera, à concupiscência ou qualquer outra paixão. É assim que o temperamento faz com que a maioria dos homens se abandone a paixões às quais os sábios resistem. Também se vê confirmar na maioria as predicações que sugerem, relativamente aos atos humanos, o exame dos astros».

Em sua preocupação de respeitar todas as nuances da realidade, Tomás de Aquino adiciona: «que de uma maneira indireta e acidental as impressões dos corpos celestes podem ter alguma ação sobre nosso intelecto e mesmo sobre nossa vontade, no sentido que o intelecto e a vontade são influenciados por forças inferiores, quer dizer ligadas aos órgãos corporais».

Nos damos conta assim que é ir bem longe no reconhecimento de uma influência direta dos astros sobre o homem. E a preocupação de Tomás de Aquino de salvaguardar o livre arbítrio e a liberdade humana não o impede de afirmar que «quando se observa os astros para conhecer as coisas que devem produzir os corpos celeste, esta adivinhação não é nem ilícita, nem supersticiosa».