AYN – ESSÊNCIA

VIDE: ayan, essência

A palavra al-‘AYN (singular de a’yan) comporta as significações de “determinação essencial”, “essência pessoal”, “arquétipo”, “olho”, “fonte”. Essa frase significa portanto que Deus queria ver-Se a Si Mesmo, com esta restrição de que Sua “visão” não se refere à Sua Essência absoluta (adh-dhat), que transcende toda determinação, mesmo principial, mas à Sua determinação imediata (AYNah), Seu “aspecto pessoal”, que é precisamente caracterizado pelas Qualidades perfeitas das quais os Nomes são a expressão. (Titus Burckhardt)

Caner K. Dagli: The Ringstones of Wisdom

O termo AYN é um dos termos mais desafiadores de traduzir na metafísica de Ibn Arabi, possuindo diversos significados únicos, ocupando um lugar de extrema importância, e ocorrendo com grande frequência através do texto. Entre seus vários significados lexicográficos estão «borbotão», «olho», «fonte», «quintessência», «essência», além de ser usado para expressar o significado de identidade, quando se diz «a coisa ela mesma», ou «isto é idêntico àquilo». William Chittick, traduziu o termo como «entidade», tem o seguinte a dizer sobre o termo:

Em seu sentido técnico como «entidade», o termo refere-se a especificidade, particularização, e designação. O que põe algo a parte de outra coisa? Os AYNs de duas coisas

Entidades são, por um lado, as coisas possíveis como existem no cosmos, e por outro lado, as coisas possíveis não-existentes no cosmos mas existentes no conhecimento de Deus. Se muitos tradutores verteram AYN como «arquétipo», isto é porque Deus criou de acordo com Seu eterno conhecimento disto. Portanto Ele dá cada coisa conhecida por Ele — cada entidade «imutavelmente fixada» (thabit) dentro de Seu conhecimentoexistência no universo… Não há diferença entre a entidade conhecida no conhecimento de Deus e a entidade no cosmos exceto que no primeiro caso é «não-existente» enquanto no segundo caso é «existente». A entidade imutável (AYN thabitah) e a entidade existente (AYN mawjudah) são a mesma realidade, mas uma existe no cosmos enquanto a outra não.

Adiante Chittick aponta que AYN é basicamente sinônimo de «coisa» (shay).

A questão levanta-se enquanto como reconciliar AYN como sendo um termo se referindo à especificidade, particularização, e designação enquanto ao mesmo tempo o vendo como sendo sinônimo com «o mais indefinido dos indefinidos». É verdade que toda «coisa» é um AYN, e é também verdade que todo AYN é uma «coisa». Ou seja, tudo no mundo é um AYN que foi feito para existir ou foi manifestado. Similarmente, todo AYN imutável é uma coisa não existente ou não-manifesta, uma algo que ainda tem de existir como um ser cósmico.

Entretanto, basta que tanto AYN e coisa possa ser aplicado a qualquer objeto que seja, existente ou não-existente, para fazer AYN e «coisa» sinônimos. Embora haja certa sinonímia entre AYN e shay na designação dos objetos existentes como tais e dos objetos não existentes como tais, a similaridade desaparece quando se considera os relacionamento entre um existente e esta mesma entidade em seu estado de não-existência. Ou seja, quando considerando algum não-existente só como um objeto do conhecimento de Deus é certamente uma coisa, enquanto uma objeto manifestado ou externalizado do Ato criativo de Deus é uma coisa também. Entretanto, o relacionamento de uma objeto existencial e do AYN do qual é uma existenciação não é propriamente descrita como aquilo de uma coisa para outra, porque de fato são a mesma coisa. O AYN criado de uma objeto imutável é, de certo ponto de vista, ele mesmo. São idênticos.

Em minha tradução dos Ringstones, escolhi verter AYN em seu sentido técnico como «identidade». Primeiramente, os AYNs imutáveis são formas (surah) no conhecimento de Deus. Forma é aqui usada no sentido de essência (dhat), de «o que é» de uma coisa. Esta é uma razão porque alguns traduziram AYN como essência, e Ibn Arabi ele mesmo frequentemente substitui dhat (essência) por AYN (identidade). O conceito de essência ou forma é basicamente sinônimo com a definição de identidade como, «a mesmidade de uma pessoa ou coisa todo tempo ou em todas as circunstâncias; a condição ou fato que uma coisa é ela mesma e não outra coisa».