Belos Nomes

Maurice Gloton: Introdução ao TRAITÉ SUR LE NOM ALLAH, de Ibn Ata Allah

O Profeta — sobre ele graças e paz — disse: «Alá tem noventa e nove Nomes; aquele que os recita — ou os retém — entra no Paraíso». Os seres referidos por este hadith se dividem em três categorias:

  • Aqueles que os retêm de cor e os recitam segundo a transmissão regular.
  • Aqueles que os compreendem e agem em consequência.
  • Aqueles que se caracterizam por eles em se apropriando de suas virtudes.

Ibn Ata Allah adiciona: «No entanto, o Paraíso concedido a cada espécie de seres é diferente em função da elevação de suas moradas espirituais, da hierarquia de seus estados, da estabilidade de seu conhecimento, da força de sua certeza e em virtude da compreensão dos segredos, que se desvelam a eles, dos Nomes e das Qualidades, de sua caracterização por esses, de sua realização neles e de sua contemplação na Teofania das Qualidades da Essência».

Por outro lado, os Nomes excelentes se dividem em três grandes classes em função da abordagem racional e tradicional:

  • aqueles que são transmitidos pela via oral, por ordem divina, por autorização profética e acordo com a Comunidade;
  • aqueles que são relativos à Essência divina e às sete Qualidades de essência chamadas sifat al-nafsiyya (literalmente: qualidades da alma), a saber: A Vida, a Ciência, a Vontade, o Poder, a Palavra, a Audição e a Visão;
  • enfim, os Nomes de Atividades e as Qualidades correspondentes em relação com a Ordem divina de existenciar as coisas.

Além destas classificações, os Nomes excelentes podem ser considerados segundo sejam:

  • Nomes de essência, sua realidade remetendo ao Si divino, como: coisa, essência, eterno, deus, etc. Eles são neste grau ao mesmo tempo o Nome e o Nomeado.
  • Nomes de Qualidades. Tais são as Qualidades da Essência ou da «Alma», aqueles que correspondem à Vontade e à Onipotência. Não se pode dizer que são Alá, nem outros que Ele, nem que o Nome é idêntico ao Nomeado.
  • Nomes de Atividades divinas. Não são outros senão Alá mas o Nome não é o Nomeado.
  • Nomes de Transcendência e de Incomparabilidade. O Nome é idêntico ao Nomeado.

O nome Alá contém sinteticamente todos os outros, tudo Dele procede. Os diferentes nomes correspondem a suas funções intrínsecas e extrínsecas distintas, produzem todos os mundos hierarquizados e por eles as criaturas participam à Graça divina. Sua natureza primordial (fitra) lhes foi conferida em sua semente original e aí o Senhor dos descendentes de Adão lhes pôs a questão «Não sou vosso Senhor?» (Corão, VII, 172). Este conhecimento primordial desposto na essência de seu ser será despertado e reconhecido aqui em baixo pela enunciação dos Nomes excelentes e mais particularmente pela invocação do nome Alá.

Caner K. Dagli: THE RINGSTONES OF WISDOM [DagliRW]

Começando com a Essência, no capítulo da Sabedoria dos Profetas que trata do Verbo Adâmico, somos introduzidos aos divinos Nomes e Qualidades. A frase «Mais Belos Nomes» refere-se ao verso do Corão, A Deus pertence os Mais Belos Nomes, assim chamados por eles. Cada Nome é um Nome de uma única Essência, sem a Essência assim submetida a qualquer divisão ou multiplicidade. Ibn Arabi chama os Nomes relacionamentos ou atribuições, ambos dados pela palavra árabe nisbah. Eles são relacionamentos na medida que significam o relacionamento entre Deus e o mundo, tais como os Nomes, o Criador e o Doador de Vida. Cada Nome é uma maneira de descrever o relacionamento entre Deus e o mundo ou «o que é outro que Deus», porque dizer Criador já é dizer criação, e dizer Doador de Vida já é dizer seres vivos. Eles são atribuições na medida que eles nada mais são do que a divina Essência. Ele recebe as designações que viemos a conhecer como divinos Nomes e Qualidades enquanto permanecendo a Essência Una. Eles são inumeráveis porque a divina Essência, embora única, é infinita.

Porque a existência é una, os Nomes são relacionamentos ou atributos não-existenciais (adami). Adam é não existência ou não-ser, e é contrastado com existência (wujud). Neste sentido wujudi e adami poderiam também ser traduzidos como concreto e não-concreto. Adami ou não-existencial é o termo usado para designar algo que não é em e de si mesmo uma entidade concreta, mas que expressa as limitações ou condições limítrofes de entidades concretas ou os relacionamentos entre elas. Wujudi, significando existencial ou concreto, é usado para designar aquilo que pertence aos aspectos concretos das entidades nelas mesmas, com respeito ao que se poderia chamar seu conteúdo positivo enquanto oposto a seus limites ou relacionamentos. Os Nomes e Qualidades são não-existenciais no sentido que não são entidades concretas separadas. São relacionamentos entre Deus e o mundo ou são atribuições limitativas da Essência Una, limitando porque um Nome particular, enquanto denotando Deus, só o faz em certo respeito. Se as Qualidades denotassem entidades concretas, o Criador seria concretamente diferente do Senhor, que poderia levar a duas divindades e que violaria a Unidade de Deus. O divino Si Mesmo é infinito sem violar sua Unidade.

Ibn Arabi (1165-1240)