Canteins IHS

Jean Canteins — Mistérios e Símbolos Crísticos
Resumo em andamento
O Nome de Jesus
Segundo Jean Canteins, em seu livro MISTÉRIOS E SÍMBOLOS CRÍSTICOS, à representação “icônica” de Jesus a tradição cristã justapôs a escritura de seu Nome. Esta escritura tomou no Ocidente a forma de um monograma de três letras: IHS, como para se destacar daquele unanimemente adotado no Oriente cristão: as quatro letras gregas IX — XC, quer dizer IS — ChS, respectivamente iniciais e terminais de Iesous Christos.

Canteins examina a alegação de paternidade deste monograma, na adoração do Nome de Jesus por Bernardino de Siena. Os dados históricos entretanto não batem, o monograma antecede em muito a vida do santo no século XV. Em seguida, Canteins refere-se a alguns objetos de arte cristã que representam o monograma na tentativa de compreendê-lo no simbolismo representado. Finalmente passa a sua análise linguística, especialidade maior de seu tradicionalismo., conforme outros livros que publicou.

O monograma IHS impõe à arqueologia cristã várias questões que não são capazes de solução plena nos estado atual das coisas. Esta sigla triliteral do Nome de Jesus, teria sua sua procedência ocidental, por sua composição por apenas letras latinas tiradas do nome latino de Jesus: IESUS. Mas esta primeira consideração depara com o fato de que a letra mediana H não pode ser assim explicada. Sua presença não pode se justificar de nenhuma maneira, por este caminho, contrariamente a I e S que correspondem à letra inicial e terminal.

Seria então o monograma derivado do nome grego de Jesus? O nome grego Iesous (maiúsculas IHCOYC) teria as duas letras iniciais do monograma IH mas não a terceira letra tipicamente latina, S, embora equivalente latino ao Sigma grego, cuja presença aqui é no entanto inexplicável, ou injustificada. Eis o problema que caracteriza de antemão Canteins em sua apresentação linguística do monograma.

Examinando em detalhe a questão, constata-se a existência das siglas IHS — XPS, para designar o Cristo, desde o século VIII. XPS é sem contestação posto em lugar de XPC, quer dizer pelas duas primeiras letras e a última letra de Christos, XPIC. X e P = Chi e Rho maiúsculos; quanto ao S é tão evidente que é posto por Sigma que é preciso aceitar vê-lo transcrito não por C, como conviria, mas por seu equivalente latino, assim admitindo a forma gráfica XPS. Deste modo XPS seria um monograma aceitável do Nome de Jesus em grego.

Trata-se de uma manipulação linguística sem grande gravidade, que uma vez o monograma adotado pelos fieis e se tornando objeto de veneração, toda contestação de sua correção ou legitimidade se tornou até ímpia. Somente no século XIX sua crítica foi retomada.

A ambiguidade se dá plea presença de letras tendo duplo pertencimento, seja ao alfabeto grego seja ao latino. Além do mais algumas letras têm uma mesma grafia, mas não uma mesma representação fonética. Assim o sentido do monograma se encontra teoricamente confuso, permitindo mesmo sua explicação por diversas significações incidentes.

Canteins examina antes de prosseguir nesta análise o Nome de Jesus em hebraico, na tentativa d encontrar subsídios a uma interpretação mais justa do monograma (v. Jesus). Sua análise vai até a Cabala Cristã de Reuchlin, concluindo com referência às considerações de Jacob Boehme que segundo ele teria sido induzido em erro pelos cabalistas cristãos. Assim quando Reuchlin aforma que o Nome de Jesus é mais eficaz que o Nome IHWH, não se trata de uma petição de princípio, mas de um ato de fé respeitável em um cristão. Por outro lado, quando adiciona que com o Nome de Jesus YHSHVH o Tetragrama é pronunciado “muito mais justamente” (longe rectius), qualquer hebraizante se dará conta que extrapola e sua “hebraicidade” é falseada por visões impuras. O Nome do Filho de Maria não pode ser, cabalisticamente falando, uma pronúncia “melhor” do Nome de Deus a menos que se fa;ca de Jesus a forma críptica do Tetragrama inefável dos judeus.

Retomando o IHS Canteins começa por examinar o par IS, suficientes a determinar o Nome de Jesus por serem sua letra inicial e final. I e S representam essencialmente as formas respectivas da reta e da curva.

I, reta vertical, simboliza a Unidade, o Princípio, a Essência, na medida que as letras são representações sonoras e gráficas de tudo que é. Foneticamente e numericamente, por outro lado, é com o Yod, o I-consoante hebraico, que I é equivalente; esta letra está concentrada numa ponta fina de onde se reputa proceder toas as outras letras hebraicas.

Enquanto reta vertical o I tem duplo sentido: como reta, representa o retilíneo, o rígido, o duro, o inalterável, o invariável e o abstrato; como vertical, o transcendente, no caso Jesus, o Pai. Isto implica que o Filho é símbolo do Pai e mais precisamente que por sua verticalidade implica no segundo logo conduz “diretamente” a ele, ou seja o I é o traçado da via reta indo de um a outro, via descendente e ascendente adotada pelo Filo nos dois sentidos segundo a vontade do Pai.

Uma reta se define por dois pontos. A vertical I supõe um “ponto baixo” e um “ponto alto”, fazendo assim alusão à dupla natureza de Jesus: humana pelo “ponto baixo”e divina pelo “ponto alto”. Pode-se ainda interpretar segundo o Filho mas, posto que este procede do Pai, pode-se conceber também que a vertical sai do Filho pelo “ponto baixo” (a “Terra”, lugar de sua Paixão) e alcança o Pai pelo “ponto alto” (o “Céu” onde o Filho retorna após a Ressurreição.

Voltando-se agora para o S, do monograma IHS, nota-se que como curva o S exprime, paralelamente o múltiplo, a substância e os “acidentes”; trata-se do sinuosos, do flexível, do mole, do plástico e variável. Enquanto curva de dupla flexão: côncava e convexa, S guarda algo da dupla espiral e a este título tem duplo sentido: evolutivo e involutivo; “afastamento” do Princípio, a parte superior do S, apresentando a parte convexa ao I (dissolução alquímica); e involutivo, se traduzindo por uma “aproximação” do Princípio pelo retorno do sentido da curva da parte inferior do S, apresentando a metade côncava ao I, o que corresponde à “coagulação alquímica”.

Combinando as duas letras I e S, se tem um emblema similar àquele de Esculápio: o pau axial ao redor do qual se enrola uma (ou duas) serpente, símbolo pelo qual o médico divino ficou reconhecido. Jesus tem uma imagem de terapeuta, curandeiro, muito reconhecida (v. Philokalia-Therapeutes). Muitas vezes se aplica o termo grego “iatros” (“aquele que cura”, “médico”) a Jesus (v. também Couliano Iatromantes).

Canteins passa então à analise do H, do monograma IHS. Esta letra permanece misteriosa, mesmo identificada ao eta grego, segunda letra do nome grego de Jesus. Sua posição mediana entre I e S, a torna um “istmo”, ou seja elemento intermediário, ao mesmo ligação e separação dos extremos. H no centro do monograma recapitula o conjunto de letras do Nome de Jesus (gr. IHCOYC) “ausentes” em IHS.

H é um signo duplo e reversível. Pode ser visto duplo em sua “dualidade horizontal”, dividido em duas metades simétricas, em relação cada uma com o espírito: a metade esquerda (â±µ) com espírito rude; a metade direita (˧) com espírito doce.

É notável que homens vivendo muito antes que o Cristo, gregos considerados pagãos, tenham reconhecido uma conexão com o “espírito”, pneuma, na letra que devia precisamente ocupar o centro do futuro monograma de Jesus. A posição face-a-face das duas barras verticais do H é a expressão de uma reverberação de uma sobre a outra, de uma reflexão recíproca cujo gerador seria o traço horizontal mediano. Neste contexto trinitário, as duas barras simbolizam respectivamente o Pai e o Filho (o segundo em primeiro como a imagem ou reflexo do Modelo) e o traço o Espírito Santo que os une.



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