C.S.Lewis — Cartas do Inferno
PREFÁCIO
Foi durante a Segunda Grande Guerra que as Cartas do Inferno apareceram pelas colunas do Guardian, agora extinto. Espero que elas não tenham apressado sua morte. Mas, com certeza, fizeram-no perder, dentre seus leitores, pelo menos um. Certo clérigo do interior teve oportunidade de escrever ao redator cancelando sua assinatura sob a alegação de que “muitos dos conselhos veiculados por aquelas cartas lhe pareciam não somente errôneos mas até mesmo diabólicos”.
Entretanto, em geral elas alcançaram tal receptividade que o autor jamais sonhara que chegaria a tanto. As críticas literárias mostraram-se ora laudatórias, ora inchadas por aquela espécie de ira que demonstra ao escritor de que o seu alvo teria sido, de fato, atingido. A procura do livro foi, desde o início, prodigiosa e assim tem continuado de modo crescente.
Na realidade, a venda nem sempre significa o que os autores esperam. Se o leitor pretender avaliar o número dos que leem a Bíblia pelo número de Bíblias que são vendidas, certamente incorrerá em grande erro. As Cartas do Inferno, dentro de seus limites, estão expostas à mesma sorte de ambiguidade. É livro do tipo que se costuma oferecer a afilhados; do tipo que costuma ser lido em voz alta por ocasião dos retiros. É até mesmo, como já observei com um riso algo forçado, daquele tipo de livros que são deixados nos quartos de hóspedes, para que ali permaneçam sem qualquer manuseio. Por vezes, tais livros são comprados por motivos ainda menos plausíveis. Certa senhora conhecida do autor descobriu que a bela atendente que lhe enchia a bolsa de água quente no hospital, havia lido As Cartas do Inferno. Foi-lhe dado também saber o porquê. “A senhora sabe”, disse a moça, “fomos advertidas de que nas entrevistas, depois de serem respondidas as perguntas relacionadas com assuntos reais e técnicos, a diretora e outros às vezes fazem perguntas sobre nossos interesses de modo geral. Nesse caso, a melhor coisa é respondermos que gostamos de ler. Assim sendo, recebemos uma lista de cerca de dez livros de leitura mais ou menos agradável, com a recomendação de que deveríamos ler pelo menos um deles.” “E você escolheu as Cartas do Inferno?” “Bem, de fato o escolhi, pois era o que tinha menos páginas.”
Ainda, depois de descontarmos essas ninharias, o livro conseguiu leitores autênticos em número suficiente para que valha a pena ao autor responder a algumas perguntas que têm surgido em várias mentes. A mais comum delas é se eu admito mesmo a “existência do Diabo”.
*O DIABO
*OS ANJOS
*SIMBOLISMO LITERÁRIO
*CONSIDERAÇÕES FINAIS
*A QUARTA CARTA