Frithjof Schuon: O ESOTERISMO COMO PRINCÍPIO E COMO VIA [EPV]
Ao contrário, não temos uma admiração ímpar pelas ciências tradicionais. Os antigos também possuíam curiosidade científica, operavam também com conjeturas e, qualquer que possa ter sido o seu sentido do simbolismo metafísico ou místico, às vezes — ou mesmo frequentemente —, enganaram-se sobre as áreas em que desejavam ter um conhecimento, não dos princípios transcendentes, mas dos fatos físicos. Em suma, é impossível negar que, no plano dos fenômenos, parte integrante, no entanto, das ciências naturais, os antigos — ou os orientais — tiveram concepções inadequadas ou as suas conclusões eram geralmente as mais ingênuas. Certamente, não os censuramos por terem acreditado que a Terra é plana e que o Sol e o firmamento giram em torno dela, uma vez que essa aparência é natural e providencial para o homem. Mas podemos censurá-los por determinadas conclusões erradas tiradas de certas aparências e com a ilusão de fazer, não simbolismo e especulação espiritual, mas ciência fenomenal ou exata, se quisermos. Entretanto, não se pode negar que a medicina aí está para curar, não para especular, e que os antigos ignoravam muitas coisas nessa área, apesar do seu grande saber em certos setores. Dito isto, estamos muito longe de contestar que a medicina tradicional tinha, e tem, a imensa vantagem de uma perspectiva que engloba o homem total; que era, e é, eficaz nos casos em que a medicina moderna é impotente; que a medicina moderna contribui para a degenerescência do gênero humano e para a superpopulação; que uma medicina absoluta não é nem possível nem desejável, e isso por razões evidentes. Mas que não venham nos dizer que a medicina tradicional é superior apenas por suas especulações cosmológicas e inexistência de determinados remédios eficazes, e que a medicina moderna, que possui esses remédios, não passa de um lamentável resíduo porque ignora as ditas especulações; ou que os médicos do Renascimento, tal como Paracelso, se enganaram ao descobrir os erros anatômicos e outros da medicina greco-árabe; ou, de maneira bem geral, que as ciências tradicionais são maravilhosas de todos os pontos de vista e que as ciências modernas, a química, por exemplo, não passam de fragmentos e de resquícios.