Corbin (Anjo) – O Relato de Iniciação e o Hermetismo no Irã

Pesquisa angelológica

Segundo a apresentação de Roger Munier desta obra, nos relatos de iniciação que seguem ao texto de Sohravardi traduzido e apresentado anteriormente por Henry Corbin sob o título de O Arcanjo Empurpurado, o que nos é proposto é como uma aventura religiosa do Eu profundo. Na doutrina sohravardiana do Ishraq, o «Anjo» é com efeito o duplo celeste da psique terrestre. Ser de luz que a fundamenta na sua realidade de alma, o «Anjo» é o princípio transcendente de sua individualidade. O Destino do homem é único e votado ao Único. Mas um Único que não é tal senão para cada um. Do mesmo modo, à fórmula para nós tradicional do «homem e sua alma», convém, nos diz Corbin, substituí-la pela mais rica e ontológica afirmação do «homem e seu Anjo». Esta afirma ao nível do destino, não a justaposição de duas realidades distintas ou a reabsorção eventual de uma na outra no seio da união mística ou na morte, mas ao invés o mistério ontológico de Dois, que restam no entanto Dois, em um Único.

A alma humana veio de alhures. Muitas tradições o ensinam desde Platão. Mas enquanto para o Platonismo, a alma de algum modo caiu no exílio da carne, «há, nos lembra Corbin, um tipo de descida da alma, digamos gnóstico-iraniano, tal que esta descida resulta do desdobramento, da ruptura de uma Todo primordial». Em se engajando na carne, ela está por um tempo somente separada de seu «Anjo». Parte integrante, como alma, de um «Todo diádico» que a comanda no mais íntimo, ela está, desde aqui em baixo, em referência constante a seu Duplo celeste. É a ele que ela deve se reunir na morte. Mas que ela pode também perder para sempre se, durante sua vida terrestre, ela foi infiel a este companheiro permanente com esta outra metade dela mesma, que só pode lhe conceder um dia sua unidade perdida.

Uma tal concepção, que remonta sem dúvida ao passado mais longínquo do Irã, não tão estranha quanto se possa crer, a nossa tradição espiritual. Corbin faz notar que se encontram traços em uma corrente subterrânea que percorreu nossa história, dos Cátaros neomaniqueus a Novalis, em passando por Jacob Boehme. O que é o «Anjo» de fato, senão o mundo verdadeiro do homem, sua Natureza Perfeita que o espera, mas cuja permanência celeste, já adquirida, continuamente o porta e sustenta ao tempo de seu exílio? O «Anjo» é, no fundo, sua essência completa. «Não é, sublinha Corbin, nem o Abismo divino impessoal e insondável, nem o Deus extracósmico, ao mesmo tempo transcendente e pessoal, de um monoteísmo abstrato ou puramente formal. MAs desde que a unio mystica com o Anjo se precisa como reunião da alma e seu Anjo, a busca se encontra orientada para uma noção do Único que não seja aquela de uma unidade aritmética, mas de preferência aquela da Unidade arquetípica, unífica, que «monadiza» todos os «únicos». A experiência que realiza este «cada vez único» do ser retornando a sua Unidade, pressupõe então uma kathena, algo como uma kathenoteísmo místico.

(CorbinAnge)