Esses ressurgimentos platônicos destacam o contraste: no Ocidente, o fracasso do avicenismo latino, submerso sob os ataques do piedoso Guillaume d’Auvergne, bispo de Paris, e depois sob a ascensão do averroísmo. No Irã, um novo destino infundiu o avicenismo com a seiva do neoplatonismo zoroastriano de Sohravardi e o perpetuou até hoje. A partir de então, também, não havia nada a ver com o desaparecimento das Animae caelestes, a hierarquia das Almas–Anjos rejeitada pelo Averroísmo, ou com tudo o que seu desaparecimento implicava ou do qual era um sintoma. Com elas é preservada a existência objetiva do mundo intermediário, o mundo das Imagens subsistentes (alam al-mithal), dos corpos imateriais, que Sohravardi chama de “Oriente Mediano” cósmico. Também é preservada a prerrogativa da imaginação, que é o órgão desse mundo mediador e, com ela, a realidade específica dos eventos e teofanias que ocorrem aí, uma realidade plenária, embora não seja a realidade física, sensível e histórica de nosso mundo. Usando esse mundo para encenar sua dramaturgia simbólica, o trabalho de Sohravardi é marcado por um ciclo completo de histórias de iniciação em persa, seguindo as histórias avicenianas. Seus títulos são sugestivos: o “Relato do Exílio Ocidental“; o “Vademecum dos Fiéis do Amor“; “O Arcanjo Empurpurado“, e assim por diante. O tema é sempre a busca e o encontro com o Anjo, que é o Espírito Santo e a inteligência ativa, o Anjo da Revelação e do conhecimento. A “Relato do Exílio” tem como objetivo retomar a história simbólica de onde o Relato de Avicena de Hayy ibn Yaqzan parou, um episódio que Avicena, por sua vez, superou no Relato do Pássaro, mais tarde traduzido para o persa por Sohravardi. O fracasso do avicenismo no Ocidente deve ter sido realmente irremediável para que hoje ainda nos recusemos a discernir as implicações místicas da noética de Avicena, conforme ilustrado por suas narrativas simbólicas.